A Assembleia da República aprovou um voto de pesar pela morte do Cónego Melo proposto pelo CDS-PP e que mereceu a abstenção do PS. O Bloco de Esquerda e o PCP votaram contra, com deputados bloquistas e socialistas a abandonarem a sala quando se cumpria um minuto de silêncio.
Corpo do artigo
A Assembleia da República aprovou, esta sexta-feira, um voto de pesar pela morte do cónego Melo, proposto pela bancada do CDS-PP e que mereceu a abstenção da maioria socialista.
A proposta teve o voto contra do Bloco de Esquerda que, pela voz do deputado Luís Fazenda, recordou que o religioso «assumiu explícita e politicamente a sua ligação ao MDLP».
«O MDLP semeou o terror, foi um cortejo de assassinatos, de incêndios a sedes partidárias, de destruição de tudo aquilo o que era o Portugal de Abril, o Portugal democrático», acrescentou este parlamentar bloquista.
Luís Fazenda comentou ainda a proposta feita pela bancada centrista ao considerar que o que o «CDS-PP nos pede é que incensemos postumamente alguém que não merece o respeito da República».
Ao lado do Bloco de Esquerda, o PCP também votou contra esta proposta, tendo Agostinho Lopes entendido que seria uma «indignidade» para o parlamento aprovar tal proposta.
Este deputado comunista justificou a posição do seu partido ao lembrar que o cónego Melo «esteve do lado dos que tentaram pôr em causa a liberdade e a democracia reconquistada».
Por seu lado, o deputado centrista Nuno Melo lembrou que o cónego Melo «nunca foi acusado, pronunciado ou julgado pela prática de qualquer crime» e frisou que «um verdadeiro democrata com representação parlamentar» tem de respeitar os tribunais.
«Extraordinário é verificar que esta extrema-esquerda que condena um homem por um crime que os tribunais asseguram ao povo deste país que não cometeu é a mesma esquerda que não se importa de glorificar outras pessoas, essas sim condenadas e julgadas por crimes de sangue verificados em democracia», acrescentou.
O PSD que votou a favor da proposta, recordou, através do deputado Fernando Santos Pereira, que o parlamento não se pode tornar num «tribunal popular» quando pondera um voto de pesar.
Por seu lado, o PS, pela voz do parlamentar Jorge Strecht, explicou que a abstenção dos socialistas seguiu-se ao facto de o CDS-PP ter retirado do texto do voto de pesar uma frase que dava o cónego Melo como um «homem de Abril».
«Não contarão connosco para qualquer tipo de instrumentalização que possa directa ou indirectamente consagrar quem por essa razão não pode ser consagrado», concluiu.
Do lado do PS, destaque para os votos a favor desta proposta por parte de Matilde Sousa Franco, Maria do Rosário Carneiro, Ricardo Gonçalves e Teresa Venda.
A seguir à aprovação do voto de pesar, seguiu-se um minuto de silêncio em respeito pela morte deste religioso que não foi acompanhado pelos deputados do Bloco de Esquerda e por cerca de três dezenas do parlamentares do PS, incluindo Manuel Alegre, que abandonaram a sala nesse momento.