
A Conferência Fibrenamics Impulse 2024 - Azul é o Novo Verde decorreu no dia 13 de março no Terminal de Cruzeiro do Porto de Leixões, em Matosinhos.
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Em nome da sustentabilidade e da Inovação, o Instituto Fibrenamics promoveu a Conferência Fibrenamics Impulse 2024 sob o lema "Azul é o Novo Verde: Estratégias Regenerativas para a Economia e para os Ecossistemas". Gunter Pauli, visionário fundador do conceito de Economia Azul, e o Professor Carlos Fiolhais foram os oradores convidados.
Raul Fangueiro, Presidente do Instituto de Inovação Em Materiais Fibrosos e Compósitos, explica que este encontro visa refletir sobre o presente, mas também sobre o futuro do planeta: “o azul e o verde têm a ver com uma mudança de paradigma no que diz respeito às questões relacionadas com a sustentabilidade em todas as suas vertentes. Todos, desde universidades, empresas, organismos de gestão do território e cada cidadão individualmente, têm um papel importante a desempenhar”.
Na sessão de abertura da Conferência Fibrenamics Impulse, o Presidente sublinhou que “vivemos num mundo onde a preocupação com o meio ambiente e a procura por práticas sustentáveis são cada vez mais urgentes. A crise climática, a perda de biodiversidade e os desafios socioeconómicos emergentes exigem respostas criativas e eficazes. Cientes desta realidade o Instituto Fibrenamics tem trabalhado incansavelmente para fomentar a investigação e o desenvolvimento de materiais avançados com o objetivo de impulsionar a competitividade das empresas e o bem-estar das pessoas, mas também de promover soluções que respeitem e regenerem os ecossistemas naturais”.
“Vivemos num mundo onde a preocupação com o meio ambiente e a procura por práticas sustentáveis são cada vez mais urgentes” - Raul Fangueiro
As oportunidades da economia azul
Gunter Pauli, visionário fundador do conceito de Economia Azul, que promove uma economia que beneficia o meio ambiente enquanto gera novas oportunidades de negócio e inovação, e autor do livro "The Blue Economy", que já inspirou projetos em mais de 170 países, foi o orador principal na Impulse 2024. No painel “Oportunidades e Desafios da Economia Azul”, defendeu que tudo deve ser interpretado num contexto e a “inovação é ver o que está para lá de um determinado contexto”.
“Temos uma forma muito engraçada de conversar sobre o positivo e o negativo. A pergunta “o copo está meio cheio ou meio vazio” está errada. A verdadeira questão sobre a qual devemos refletir é que o copo está sempre cheio de água e ar. Não vemos o ar, mas sabemos que está lá. E é disto que precisamos para a economia do futuro, para a inovação”. Gunter Pauli partilhou uma experiência de reflorestação numa floresta tropical da Colômbia e os desafios com que teve de lidar. “A economia verde é um grande objetivo, mas é tudo muito mais dispendioso. Como podemos ser a favor de uma economia para o trabalho? Tudo o que é bom para nós e para a natureza custa mais dinheiro. É uma economia para os ricos e nunca será a tendência dominante. Gosto de concentrar-me numa economia onde tudo o que é bom para nós e para a natureza é barato. E é barato porque tenho múltiplas receitas e ganho mais receitas. Com o que tenho gero empregos”.
“A cultura de inovação numa região não consiste apenas em reunir os intervenientes do governo, as empresas e a sociedade civil. É preciso simplificar e agir” – Gunter Pauli
Gunter Pauli assume-se como um empresário que quer fazer diferente. “Em 1987 ouvi falar em alterações climáticas, li um relatório do IPCC que dizia que as emissões de dióxido de carbono estavam a aumentar tanto que o clima ia mudar. Como empresário decidi avançar com um projeto ousado e criar uma empresa com emissões zero e assim fiz. A fábrica era energeticamente autossuficiente, os trabalhadores eram pagos para se deslocarem para o trabalho de bicicleta, não havia carros. A cultura da inovação exige que se façam perguntas para as quais não temos resposta”
Gunter Pauli defende que “a cultura de inovação numa região não consiste apenas em reunir os intervenientes do governo, as empresas e a sociedade civil. É preciso simplificar e agir. Precisamos começar a fazer negócios... temos milhões de projetos-piloto, mas não os industrializamos. 70% do mundo é oceano e os oceanos representam 5% da economia mundial. Como é que temos tantas tecnologias e pouco fazemos com os recursos marinhos? É preciso olhar para a economia azul”.
A terminar o painel “Oportunidade e desafios da economia azul”, Gunter Pauli afirmou que “precisamos de empreendedores com propósitos na vida, de políticos mais inspiradores e incentivadores. Precisamos uns dos outros, devemos usar menos tecnologia e mais neurônios, porque é nisso que somos bons como seres humanos. Precisamos ter clareza sobre o nosso futuro, se quisermos ser sustentáveis e quisermos regenerar este oceano que nos rodeia. E precisaremos de muito compromisso e senso de responsabilidade para dar continuidade ao que iniciamos”.
Olhar as alterações climáticas
A Conferência Fibrenamics Impulse 2024 - Azul é o Novo Verde decorreu no Terminal de Cruzeiro do Porto de Leixões. Carlos Fiolhais foi o convidado do segundo painel, que teve como tema: “Alterações Climáticas Globais: a visão de um físico”.
O Professor catedrático da Universidade de Coimbra começou por dizer que “o efeito de estufa tem muito má fama, mas sem ele não poderíamos estar aqui. A atmosfera funciona como um vidro de uma estufa, os raios do Sol entram, aquecem o interior, uma parte é devolvida e outra parte chega à superfície. Já em 1903, o sueco Svante Arrhenius, Prémio Nobel da Química, falava de alterações climáticas”.
“O homem é o responsável pela degradação do planeta, pelo aquecimento global, graças à revolução industrial a economia mudou completamente, a vida mudou”- Carlos Fiolhais
“O homem é o responsável pela degradação do planeta, pelo aquecimento global, graças à revolução industrial a economia mudou completamente, a vida mudou. Naquela altura as pessoas não tinham consciência, mas agora temos o conhecimento e temos a consciência”, explica o Professor.
2023 foi o ano mais quente de sempre no mundo. “Em consequência das alterações climáticas são cada vez mais frequentes secas, ondas de calor, furacões, a subida das águas do mar, o que provoca um decréscimo na biodiversidade. Se houver um aumento de 3° C na temperatura, cerca de 60% das espécies acabam. O comportamento social, económico e político é o maior emissor de dióxido de carbono. A população da Terra está a aumentar, todas as previsões são incertas, porque dependem de comportamento social económico e político”.
Carlos Fiolhais afirma que toda a gente sabe o que deve fazer. “O problema é nosso e a solução tem de ser nossa. Temos de cortar as emissões e de conseguir mudar a economia para uma economia verde. A Europa está melhor na questão da transição energética, mas ainda tem muitas fragilidades. Em Portugal temos de estar particularmente atentos, o problema não é científico e tecnológico, é económico, social e político. Vamos conseguir se estivermos unidos nesta luta”.
A Conferência Fibrenamics Impulse 2024 decorreu no dia 13 de março no Terminal de Cruzeiro do Porto de Leixões, em Matosinhos.
