
Mais de quinhentas pessoas ligadas ao ecossistema têxtil passaram na cimeira que foi levada a cabo no Terminal de Cruzeiros, em Matosinhos. O CITEVE, que organiza o encontro, já anunciou que para o ano haverá uma nova edição, a sétima.
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Foram 3 dias de debates à volta da inovação e da sustentabilidade num setor “impressionante”, com 12 mil empresas, cerca de 130 mil postos de trabalho e um volume de negócios de oito mil milhões”, como sublinhou logo no primeiro dia Pedro Reis, ministro da Economia. Foi o governante quem fechou o primeiro dia da iTechStyle Summit, não sem antes afirmar que os desafios que estão perante o ecossistema do têxtil e da moda “são muito semelhantes àqueles que enfrenta a economia portuguesa” como “o escalar das marcas próprias”, ou “online, o B2C e a digitalização”.
Um discurso de encerramento que Pedro Reis terminou com uma garantia: “não tenham dúvidas nenhumas que o ministério da economia, enquanto eu cá estiver, está ao serviço das empresas”.
Mas se o discurso final foi feito por um governante, também o de abertura o foi, com Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ensino Superior e Inovação, a dizer que “o setor mudou muito nos últimos 20 anos. Nos últimos quinze anos é um dos que mais cresceu em produtividade”. Ainda assim tem perante si grandes desafios e num dia dedicado a debater as grandes tendências, o ministro afirmou que a inovação tem de ser uma dessas tendências.
Para Fernando Alexandre a digitalização é “essencial” e “a competição [com empresas rivais estrangeiras] não vai ser feita em tarefas rotineiras com trabalho indiferenciado. Vai ser feita com trabalho qualificado e com qualificações que permitam aproveitar o potencial da digitalização”.
Uma ideia que o ministro concluiu dizendo que “os recursos humanos vão ser cada vez mais o foco das empresas do têxtil e do vestuário”.
iTechStyle Awards e os parabéns ao CITEVE
O primeiro dia da sexta edição desta conferência ficou marcado pela celebração. No jantar após dos debates, cantaram-se os parabéns ao CITEVE - Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário, organizador deste encontro, que celebra 35 anos de trabalho.
Após esse momento, seguiu-se a entrega dos prémios iTechStyle Awards. Entre 69 têxteis, 42 produtos e 82 acessórios a concurso, escolheram-se seis finalistas para cada categoria. Foi dessa lista mais apertada que saíram os vencedores.
O galardão de “Melhor Tecido” foi entregue à INOVAFIL, o “Melhor Produto” à TMG TEXTILES e à FLM TÊXTEIS, ao passo que o prémio de Melhor Acessório foi entregue aos Bordados Oliveira. Nas categorias especiais como a Têxtil Inteligente, o galardão foi para a Pafil (que desenvolveu um exoesqueleto para costureiras) e o prémio de Têxteis Sustentáveis passou para as mãos da Texteis Penedo.
Economia sustentável, circular e bio
O segundo dia foi dedicado a uma economia têxtil mais sustentável, circular e bio. Logo pela fresca Dirk Vantyghem, diretor geral da EURATEX - Confederação Europeia do Têxtil e Vestuário, deu o mote.
O alemão veio a Matosinhos lembrar aos presentes que a Comissão Europeia está a ultimar legislação que, em cinco anos, vai mudar muita coisa no setor.
Segundo este responsável, “vem aí mais responsabilidade para os produtores”. De resto, está também “a ser redefinido o conceito do desperdício e a partir do próximo ano já não vai ser possível exportar os desperdícios têxteis, nem os vamos poder queimar”.
Nesse pacote legislativo, o representante e lobista-chefe do setor em Bruxelas afirma que há uma série de pontos que quer ver plasmados. Ele chama-lhes “ o nosso manifesto”.
São ideias-chave que procuram “o desenvolvimento de uma estratégia industrial inteligente, portanto tem itens relacionados com a competitividade, política energética e apoios estatais”.
A EURATEX quer que a sustentabilidade esteja na legislação, mas “com objetivos realistas, sem datas de execução malucas, ou ambiciosas demais”. O manifesto fala ainda de “mercados abertos, mas garantindo que todos no planeta se baseiam nas mesmas regras, portanto garantindo que a competição é justa”.
Um setor que se quer tornar mais sustentável e que anda à procura de caminhos que o tornem mais amigo do ambiente. Uma busca que pode passar pelo CIIMAR, o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental, da Universidade do Porto.
O presidente deste instituto, Vítor Vasconcelos, recomenda aos empresários que invistam mais nos projectos que usam as microalgas para criar pigmentos. Trata-se de uma forma muito mais limpa de dar cor às roupas, com pigmentos mais sustentáveis, “mas também de as tornar mais funcionais, por exemplo, colocando filtros ultra-violeta em peças de vestuário como as t-shirts”.
A transformação digital e a Inteligência Artificial
O último dia da cimeira organizada pelo CITEVE arrancou com um painel especializado na criação de modelos 3D e na digitalização de amostras tanto de roupa como de tecidos. Pela Vizoo, a alemã Renate Eder veio explicar como a sua empresa está a permitir aos clientes pouparem milhões de euros através da utilização de amostras digitais de tecidos e de peças de vestuário.
Uma transformação digital que permite não só essa poupança, mas, de acordo com Renate Eder, “lojas com um aspecto mais moderno e mais clean”. A COO da Vizoo deu como exemplo a Adidas que transformou as lojas, instalando muitos ecrãs nos quais são mostradas essas renderizações 3D de modelos criados pela empresa.
Os têxteis estão em toda a parte, até na guerra
No último dia, a parte da tarde foi dedicada a têxteis de desempenho para indústrias como a automóvel ou aeronáutica. No entanto, a apresentação de Kostia Sytniuk destacou-se. Ele representou a empresa ucraniana UBT Ukrbastech, uma companhia que nos últimos anos tem encontrado no setor da defesa um mercado apetecível.
A apresentação acabou por ser um mergulho na guerra contra a Rússia de um ponto de vista que raramente é mostrado, o de como os materiais usados podem ajudar os soldados no terreno a rechaçar a invasão russa.
Durante cerca de 20 minutos Kostia Sytniuk deu vários exemplos de como os têxteis que a sua empresa está a desenvolver, com basalto na sua estrutura, podem e estão a ser usados na indústria naval, nas munições “que por serem mais leves, melhoram a pontaria dos soldados”, nos drones, na aviação e até nos mísseis.
Também nas munições de grande porte, para a artilharia, estes materiais prometem uma revolução. Kostia Sytniuk explica que “os cartuchos tradicionais são muito pesados, mas com os materiais que estamos a desenvolver, eles ficam muito mais leves”.
Uma apresentação que terminou com uma frase que soou a uma tentativa de alistamento: “estamos à procura de empresas portuguesas com as quais possamos colaborar”.
