
No âmbito da campanha "Cuidar de quem já cuidou de nós vale mesmo a pena", o Lidl, vai atribuir donativos a três instituições que trabalham diariamente com seniores. Estas IPSS aproveitam a iniciativa para fazer um retrato do que é envelhecer em Portugal.
Com o aumento da esperança média de vida, que atualmente em Portugal se situa nos 81,49 anos, mais pessoas têm a expectativa de viver muitos anos após se reformarem, mas este período da vida vem recheado de desafios, como a solidão, as dificuldades económicas ou problemas de saúde. Instituições como a Cruz Vermelha Portuguesa, a Associação Coração Amarelo ou a RUTIS (Associação Rede de Universidades da Terceira Idade) trabalham todos os dias para colmatar as adversidades que surgem com o avançar da idade.
São estas três instituições que vão receber os donativos resultantes da campanha "Cuidar de quem já cuidou de nós vale mesmo a pena" promovida pelo Lidl. Por cada lombo ou posta de bacalhau certificado vendido entre 10 de novembro e 7 de dezembro, o Lidl vai doar um euro a estas instituições.
Promoção da dignidade
A Cruz Vermelha Portuguesa vai usar o valor para reforçar dois projetos que decorrem no interior do país, nomeadamente em Seia e em Bragança. "São projetos que levam às aldeias mais distantes e isoladas um conjunto de atividades e serviços que de outra forma não teriam", revela Joana Rodrigues, coordenadora da área social da Cruz Vermelha Portuguesa. O objetivo é chegar a mais aldeias para oferecer serviços como rastreios de saúde, promoção de exercício físico, literacia, entre outros.
Joana Rodrigues destaca que a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) trabalha sempre na "promoção da dignidade" de todas as pessoas, desde que nascem até que morrem, mas tem uma forte presença junto dos idosos com programas para combater o isolamento e garantir as necessidades básicas. "A inclusão destas pessoas passa também pelo reconhecimento do que são, da sua sabedoria, da sua dimensão social, da sua dimensão psicológica e portanto, tentamos trazer mais qualidade e cidadania plena a todas estas pessoas", explica.
Encontrar novos propósitos
No caso da RUTIS, os donativos vão servir para reforçar a Universidade Sénior Virtual. "Durante a COVID-19, quando as universidades fecharam e só pudemos funcionar online, criou-se uma comunidade e, por isso, decidimos continuar com o projeto depois da pandemia", relata Luís Jacob, presidente da RUTIS. Com este projeto as universidades seniores conseguiram chegar a um público que até aqui não tinha possibilidade de assistir às aulas. "Há pessoas que são cuidadores informais ou eles próprios estão doentes. Então não podem ir à universidade, ou porque estão numa aldeia e às vezes, podem estar a apenas 15 km, mas para quem não tem carro, parecem 500 km. E chegámos também aos emigrantes que estão no Brasil, em África, em França, ou outros locais, e que, praticamente, já não tinham contacto com Portugal", exemplos que levaram a RUTIS a querer estender o projeto.
Luís Jacob entende que a solidão é "a grande doença do séc. XXI", com as universidades séniores a apresentarem-se como um bom remédio. "A nossa melhor hipótese é irmo-nos recriando, fazer novas amizades, não nos fecharmos e termos um propósito de vida. O simples facto de uma pessoa ir à aula de Inglês já significa que todo o meu dia vai estar orientado para ir àquela aula, isso já é um propósito", defende Luis Jacob.
"O Estado e a própria economia devem ver o envelhecimento como uma oportunidade para ter um conjunto de atividades e mecanismos que permitam às pessoas viver mais 20 ou 30 anos com plenitude"
Promoção da autoestima e saúde mental
Na Associação Coração Amarelo, a cada utente é atribuído um voluntário que o acompanha até ao último dia. "Ouvimos as pessoas, acompanhamo-las e tentamos trazê-las para a rua para conviverem e se sentirem inseridas na comunidade", conta a representante da associação Ana Paula Sobral, que lembra a história de uma mulher que esteve oito anos sem sair de casa, mas "hoje em dia sai todas as quartas-feiras para dançar". O donativo do Lidl vai permitir "fazer face às necessidades inerentes à atividade, nomeadamente idas ao médico, passeios, tertúlias, projetos intergeracionais e atividades culturais para promover a autoestima e saúde mental dos mais velhos".
O envelhecimento é uma oportunidade de nos "reinventarmos"
O envelhecimento não se faz só de desafios. É também uma oportunidade para explorar novas ideias que foram ficando na gaveta ao longo da vida. Mas pode ser uma fase difícil, como sublinha Luís Jacob, presidente da RUTIS: "A nossa sociedade ocidental está muito orientada para o trabalho. Os nossos amigos, as nossas rotinas, giram todas em torno do trabalho. Quando à sexta-feira sou um trabalhador e à segunda-feira um reformado, para muitas pessoas é complicado, é preciso fazer o luto". Luís Jacob lembra que as universidades seniores nasceram precisamente com o intuito de permitir que as pessoas se "reinventem" nesta fase da vida, fazendo atividades que nunca tiveram oportunidade para fazer.
"Temos uma grande preocupação sobre como chegar até mais velhos, mas esquecemos como é que queremos chegar até lá. É, verdadeiramente, uma oportunidade para nos reconstruirmos enquanto cidadãos, mas também enquanto sociedade. O Estado e a própria economia devem ver o envelhecimento como uma oportunidade para ter um conjunto de atividades e mecanismos que permitam às pessoas viver mais 20 ou 30 anos com plenitude, depois da reforma", completa Joana Rodrigues da CVP.
O presidente da RUTIS defende que é "obrigatório" as sociedades repensarem o envelhecimento da população, principalmente em países como Portugal onde a taxa de natalidade é baixa. "É um desafio tremendo que nos obriga a repensar a nossa sociedade", afirma.
Ana Paula Sobral, da Associação Coração Amarelo, recorda que é também dos mais velhos que vem muito do conhecimento que pode ser útil para a sociedade e que deve ser aproveitado. "Têm experiência e conhecimento acumulado ao longo da vida que pode-se pôr ao serviço da população, todos têm uma história de vida com muito para ensinar e para dar às pessoas mais novas", reforça.
