
Para o Novo Banco definir uma estratégia ibérica ajuda a ganhar escala além-fronteiras. Mas para as empresas que dependem apenas de um mercado, diversificar é sinónimo de minimizar eventuais riscos que o mercado externo pode trazer.
Corpo do artigo
Na próxima quarta-feira, dia 27, as empresas que têm uma estratégia de exportação terão um palco privilegiado durante o Portugal Exportador para a troca de experiências e até para concretizar negócios. Para aqueles que estão a desenhar a sua estratégia, o Novo Banco, um dos parceiros do evento, lembra que Espanha deve ser encarado como um destino natural de expansão. Mas alerta que também deve haver espaço para a diversificação de mercados acautelando os riscos que possam surgir.
Paula Mota Pinto, diretora do Departamento Comercial Internacional do Novo Banco, não tem dúvidas que as empresas com perfil exportador têm vindo a afirmar-se no tecido empresarial, ao representar 35% no volume de negócios do total das empresas. Mas não esconde que é preocupante que, 66% do total das empresas exportadoras, em 2017, tenham apenas um único mercado de destino da sua produção. E que exportações portuguesas continuem concentradas na União Europeia (cerca de 74% em 2018), em que, Espanha, França, Alemanha e Reino Unido representam mais de 50%.
Face a este cenário, Paula Mota Pinto não tem dúvidas que a "concentração elevada é sinónimo de risco acrescido e, nestes casos, diversificar torna-se ainda mais premente".
Ainda assim, a diretora do Departamento Comercial Internacional do Novo Banco alerta que a diversificação dos mercados estará "sempre muito associada à atividade da própria empresa". Isto porque, segundo Paula Mota Pinto, o objeto da exportação pode ser de aceitação mais global, por exemplo, nos setores tecnológicos ou, mais restrito a certas geografias, como é o caso das empreitadas de infraestruturas.
Espanha é um destino natural
Apesar da necessidade de diversificação de mercados nalguns setores, a verdade é que Espanha continua a ser um parceiro privilegiado e onde já há empresas portuguesas a dar cartas. De acordo com a consultora do Negócio Ibérico do Novo Banco, Elsa Castro, o mercado espanhol está mais aberto e recetivo ao investimento português. "Espanha continua a ser o nosso sócio comercial por excelência, principal cliente e fornecedor", lembra a mesma responsável. E destaca ainda que "a qualidade dos produtos e competência dos recursos humanos portugueses e o nível de produtividade das nossas empresas são cada vez mais reconhecidas internacionalmente, e Espanha não é exceção".
Olhando para o país vizinho, Elsa Castro, que será uma das oradoras no Portugal Exportador salienta, enquanto trunfos, a sua dimensão, agressividade e competitividade deste mercado e que podem ser oportunidades para as empresas nacionais. Do lado português, Elsa Castro identifica como trunfos as competências tecnológicas, a capacidade de inovação, qualidade do ensino, o elevado nível de formação dos engenheiros e gestores, a par das capacidades linguísticas dos portugueses em geral.
Para a consultora do Negócio Ibérico do Novo Banco, mais do que um país vizinho, Espanha é sem dúvida o mercado natural de expansão, não só em termos de mercado doméstico, mas também a outros mercados de afinidade. Nas palavras de Elsa Castro, "partilhamos um mercado comum, o da Península Ibérica, entendido para muitos grupos económicos, como é o caso do Novo Banco, como único". Numa altura, em que muitas empresas espanholas estão a substituir fornecedores distantes por outros mais próximos dos seus clientes a proximidade a Portugal é inquestionável, já que permite maior flexibilidade, prazos mais curtos, produtos de qualidade, diferenciados e competitivos, com a garantia adicional de "made in EU".
  
Estratégia ibérica para ganhar escala
Elsa Castro defende que a complementaridade dos tecidos empresariais e o elevado grau de integração de inúmeras cadeias de valor possibilitam várias oportunidades de negócio e colaboração. E identifica como bons exemplos desta realidade, o setor automóvel, aeroespacial, centros de excelência, biotecnológico, farmácia, químico, logístico, moldes, tecnologias de informação e comunicação. A consultora salienta ainda que existem oportunidades também no mercado da distribuição e retail, energia, turismo e construção, apesar de existirem barreiras mais relevantes. E lembra que são segmentos que continuam a ser interessantes e onde já existem casos de sucesso de expansão no mercado espanhol e com potencial de crescimento como a EDP, Sonae, Parfois, Pestana, Luís Simões ou a Catari.
A consultora do Negócio Ibérico do Novo Banco acredita que, na hora de avançar com uma expansão internacional a definição de uma estratégia ibérica entre empresas portuguesas e espanholas poderá trazer mais frutos. "Acredito que juntos, poderemos aproveitar melhor as oportunidades em mercados mais distantes como América central, África ou Ásia", sublinha a mesma fonte. "Partilhamos o mercado ibérico e europeu." Elsa Castro explica que, através de alianças estratégicas ibéricas, as empresas portuguesas poderão aceder a mercados de maior afinidade e influência hispânica como a América Latina. Assim como as empresas espanholas podem aceder ao mercado africano, onde os portugueses "são profundos conhecedores e que podem constituir importantíssimas alavancas de crescimento".
Os riscos a ter em conta
A aposta nas exportações tem servido de ferramenta para as empresas portuguesas continuarem a crescer. No entanto, apesar das oportunidades existentes numa estratégia de exportação há que ter em conta que esta aposta é um desafio que acarreta riscos. A diretora do Departamento Comercial Internacional do Novo Banco identifica riscos diretamente associados à empresa importadora (contraparte) com a qual se relaciona, por exemplo, como o risco de crédito (não pagamento) ou o risco associado ao cancelamento da encomenda.
A geografia dessa contraparte também deve ser olhada com cautela, já que poderá existir o risco associado à instabilidade política do país ou à transferência de montantes em moeda estrangeira.
Paula Mota Pinto sugere a adoção de instrumentos de Trade Finance, mais tradicionais ou de financiamento (créditos documentários, financiamento à exportação e garantias bancárias), para assegurar o pagamento, financiamento e garantia, no âmbito do comércio internacional.
A mesma responsável garante ainda que o Novo Banco tem equipas de especialistas que apoiam os clientes na condução das suas operações de Trade Finance, numa perspectiva "end-to-end" - desde a fase ex-ante da operação, passando pelo momento da emissão efetiva dos instrumentos de garantia ou pagamento associados, de eventual necessidade de financiamento ("supply chain"), até à finalização dos mesmos. Este apoio compreende ainda formação neste tipo de instrumentos, sendo também dado a conhecer as evoluções e tendências recentes, assim como a atualização das regras associadas à condução dos mesmos.
A 14ª edição do Portugal Exportador que decorre na quarta-feira, no Centro de Congressos de Lisboa, assume-se como o maior evento ligado à internacionalização das empresas portuguesas.
As inscrições estão disponíveis em www.portugalexportador.pt, ou no próprio dia no Centro de Congressos de Lisboa. Haverá lugar a debates sobre os mercados em destaque - Espanha, Angola e Alemanha -, sobre os setores agroalimentar, metalomecânico e e-commerce e temas relacionados com a exportação. No mesmo espaço estarão empresas, consultoras, entidades, empresários e PME que pretendem iniciar o seu processo de internacionalização.