Desenhar a próxima Revolução Industrial
Durante três dias, oito equipas de data scientists e engenheiros de três países abraçaram o desafio da Galp: o desafio de levar a Refinação para a sua versão 4.0., em plena refinaria de Sines.
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Parece um paradoxo que os atletas de uma maratona passem quase três dias sentados, reunidos à volta de uma mesa densamente populada por computadores e papéis onde vários gráficos oferecem um vislumbre da complexidade da "meta" que deverá ser alcançada. Mas o Datathon não foi uma competição comum, e os seus atletas também não o poderiam ser.
Numa só sala reuniram-se, entre os dias 22 e 24 de novembro, perto de meia centena de cientistas de dados e engenheiros, oriundos de universidades portuguesas, mas também de Espanha e do Reino Unido, com os olhos postos num prémio de 50 mil euros mas as mentes focadas num desafio complexo que lhes foi apresentado pela Galp e que resulta de um esforço recente de transformação digital.
Na abertura desta maratona Carlos Silva falou - a partir do seu gabinete a mais de uma centena de quilómetros de distância - sobre a importância deste evento não só para a estrutura da Galp dedicada à refinação, mas também sobre o valor simbólico para o setor que este esforço de transformação representa. O COO da Galp sublinhou que, mais do que um esforço de investimento - que anualmente tem alocados mais de 30 milhões de euros e envolve 1500 colaboradores - este processo de transformação digital da Galp pretende melhorar os processos de trabalho cooperativo entre o tecido humano e também melhorar os processos industriais, com vista a melhorar a eficiência da refinação e a diminuição de emissões.
  
Falar de coisas sérias, entre jogos de Space Invaders
"Levamos o data muito a sério", referiu Nuno Pedras, Chief information and Digital Officer da Galp, enquanto falava para os participantes do Datathon (ansiosos pelo "tiro de partida"), sublinhando também que o real desafio era o da sua empresa, a qual deveria melhorar a sua eficiência - em termos económicos e ambientais - a partir da solução que, idealmente, seria ali encontrada.
Em termos concretos, foi pedida a estas equipas multidisciplinares uma solução para otimizar o funcionamento de um equipamento importante para o funcionamento da refinaria de Sines.
Após dois dias dedicados ao típico processo científico - análise dos dados, formulação da hipótese e tentativa de validação dessa mesma hipótese -, com poucas ou nenhumas horas dormidas, as oito equipas apresentaram perante um exigente júri aquelas que acreditavam ser as melhores soluções assentes em sistemas de machine learning, que terão forçosamente de absorver uma quantidade vasta de dados sobre variáveis que são mutáveis ao longo do tempo. Para descomprimir ou, quem sabe, para acicatar o espírito inventivo, algumas das equipas levavam o brainstorming até junto das máquinas de arcade e mesas de pingue-pongue que nos relembram que muitas vezes é nos momentos mais simples que surgem os saltos gigantes na inovação tecnológica.
A meta que é também um início
O primeiro de muitos eventos dedicados a data analytics e à melhoria transversal da atividade da empresa, e na pesquisa em prol de soluções reais "que não são apenas história". Esta foi a promessa de Carlos Silva na hora de divulgar os vencedores, acompanhado por José Manuel Mendonça. O Presidente da Administração do INESC TEC, que presidiu também ao júri do Datathon, mencionou uma faceta importante deste evento, que deu origem a várias trocas de impressões entre as equipas participantes, envolvendo também as equipas técnicas da Refinaria e os membros do júri, resultando num "processo de aprendizagem coletivo". Talvez por isso, no final tenham sido escolhidos duas equipas vencedoras ex aequo, a da Universidade de Aveiro e da Universidade John Moores de Liverpool. As propostas, diferentes entre si, complementam-se ao apresentar perspetivas baseadas em conhecimento puro de engenharia e data analysis, dando origem a um primeiro passo para uma evolução industrial que se desenha entre uns e zeros.