Substituir os cigarros tradicionais por novos produtos menos nocivos é o grande objetivo da Philip Morris International, que investiu mais de 8,1 mil milhões de dólares nesta missão. Próximo passo é apostar no sector da saúde e do bem-estar, afirma o CEO.
Corpo do artigo
Reduzir os riscos associados ao consumo de tabaco e transformar, por completo, o modelo de negócio é o foco da Philip Morris International (PMI), que detém a portuguesa Tabaqueira. Desde 2016, a estratégia da multinacional passa pela eliminação do fumo de tabaco através da disponibilização de dispositivos com nicotina, mas sem combustão, sem fumo e com 95% menos produtos tóxicos dos cigarros tradicionais. "Há um crescente reconhecimento da ciência de que não é a nicotina que cria o problema, mas a combustão", apontou o CEO Jacek Olczak, durante o VII Delphi Economic Forum, que se realizou na Grécia entre 6 e 9 de abril. A grande aposta, sustentada em mais de 8,1 mil milhões de dólares investidos em investigação e desenvolvimento (I&D), é chegar a 2025 com mais de 50% das receitas provenientes de produtos sem fumo.
Para atingir a meta será necessário continuar a investir em inovação, mas sobretudo conseguir sensibilizar fumadores e reguladores para o impacto positivo que os novos produtos podem ter na redução do consumo de tabaco. "Dissemos que conseguíamos reduzir drasticamente os malefícios do fumo e que podíamos ter um produto que retira 95% dos elementos tóxicos do tabaco", explica Olczak. Embora reconheça que o cenário ideal seria o de um mundo sem fumadores, o empresário polaco, que lidera a PMI desde 2021, vê nestas novas soluções uma forma de controlar os riscos associados ao tabaco para aqueles que não querem ou não conseguem deixar de fumar. Gregoire Verdeaux, Senior Vice President of External Affairs, não tem dúvidas de que a ciência e a tecnologia são parceiras essenciais neste processo de transição. "A inovação no nosso sector é passar de produtos de combustão, com os efeitos bem conhecidos, para produtos sem combustão e que são identificados como menos nocivos", afiança.
Apesar das dificuldades sentidas com a regulação do sector em vários mercados internacionais, a multinacional conseguiu submeter à análise da FDA - Federal Drug Administration, dos Estados Unidos, novos produtos de tabaco aquecido e ter aprovação da entidade. "A FDA considerou que há evidências de que estes produtos estão, de facto, a reduzir massivamente a exposição a elementos tóxicos que encontramos nos cigarros de combustão", acrescenta. O caminho deve ser, defende, o de considerar que estes dispositivos podem ser vistos como ferramentas de saúde pública para a redução do número de fumadores.
Porém, numa sociedade cada vez mais polarizada, Jacek Olczak lamenta que existam pessoas que procurem descredibilizar a ciência pelos estudos serem patrocinados pela indústria. "Como a ciência tem vindo da PMI, em muitos cantos do mundo as pessoas dizem que não acreditam em nós", afirma. Ainda assim, usa os exemplos do Japão e da Coreia do Sul, mercados onde estes produtos estão disponíveis há mais anos, para demonstrar o seu impacto positivo. "Conseguimos ver que as hospitalizações por doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), uma das mais associadas ao fumo do tabaco, começaram a descer".
Da Grécia ao Reino Unido
"Vivemos em tempos em que a ciência consegue fazer magia", diz Olczak, referindo que o tabaco aquecido tem já 20 milhões de utilizadores "que vieram dos cigarros a combustão e que praticamente deixaram de os fumar". Para o CEO, a experiência no mercado grego é demonstrativa do potencial destes dispositivos, já que "meio milhão de gregos" decidiu, nos últimos anos, fazer esta transição. O responsável admite que estes números foram "uma surpresa", dado o perfil do fumador grego, visto como mais tradicional e mais relutante em deixar de fumar. E neste país, refere, foi possível encontrar uma "simbiose quase perfeita" entre a indústria, a ciência, a comunidade médica e o governo para a definição de uma estratégia de redução do risco e dos efeitos do tabaco.
Verdeaux recorre ainda ao caso britânico para falar num modelo que outros países devem, na sua perspetiva, adotar e implementar. No Reino Unido, o governo de Boris Johnson sugeriu "que os cigarros eletrónicos possam ser propostos pelo serviço nacional de saúde como ferramenta para substituir os cigarros tradicionais". "Toda a Europa Central e do Leste está a abraçar o conceito de redução de risco de forma mais acelerada do que a Europa Ocidental", complementa Olczak.
Daqui a dez anos, Jacek Olczak imagina uma sociedade em que a categoria dos cigarros a combustão não existe e faz parte da história, tal como hoje não são produzidos automóveis sem cintos de segurança. A PMI acredita, por tudo isto, que é na regulação que está a solução para construir um mundo sem fumo, sendo necessário olhar para as evidências científicas e agir em conformidade. O CEO sabe que "é inédito" um responsável da indústria tabaqueira dizer que pretende "começar a investir no sector da saúde e do bem-estar", mas diz ser um plano "realista". "As coisas que já aprendemos sobre o sistema respiratório humano ajudam-nos muito no desenvolvimento de produtos para este sector", perspetiva, mantendo a confiança de que os cigarros serão, em breve, produtos do passado.