PRR e PT2030 são "oportunidade ímpar de transformar a competitividade da economia portuguesa"
Portugal irá receber nos próximos anos fundos europeus no âmbito do PRR, que está agora a arrancar, e do PT2030, que começará formalmente em janeiro de 2023. Uma parte destes apoios irá para o tecido empresarial, capaz de gerar valor para a economia nacional. Na Millennium Talks, discutiram-se os principais desafios que estes investimentos acarretam. Recorde os melhores momentos.
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A aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e do PT2030 vai permitir implementar um conjunto de investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado, através de apoios concedidos às empresas, que são já hoje um exemplo de recuperação e resiliência. Este tema, assim como os desafios e riscos encontrados pelo tecido empresarial para cumprir este plano, estiveram na ordem da mais recente edição da Millennium Talks.
Este evento, que teve o apoio editorial da TSF, decorreu na manhã do dia 15 de julho, no Porto, e contou com a presença de Miguel Maya, Presidente da Comissão Executiva do Millennium bcp, Fernando Medina, Ministro das Finanças, Gonçalo Regalado, Diretor de Marketing de Empresas, Negócios e Institucionais do Millennium bcp, José Rui Felizardo, Chief Executive Officer do CEiiA, António Carlos Rodrigues, Chief Executive Officer do Grupo CASAIS, Hermano Rodrigues, Principal da EY-Parthenon, José Gomes, Chief Operating Officer do Grupo AGEAS Portugal, Jorge Portugal, General Manager da COTEC Portugal, e João Nuno Palma, Vice-Presidente da Comissão Executiva do Millennium bcp.
Miguel Maya foi o primeiro orador da manhã e defendeu, perante mais de 600 empresários e gestores, que estes apoios são uma "oportunidade ímpar de transformar a competitividade da economia portuguesa". "É consensual que os fundos europeus, o PRR e o PT2030, constituem uma oportunidade singular, que nos confere uma responsabilidade coletiva pela sua aplicação em projetos e iniciativas que promovam a transformação do modelo económico, de forma a atingirmos níveis de crescimento fortes e sustentáveis", afirmou o gestor.
Para o Presidente da Comissão Executiva do Millennium bcp, neste contexto de elevada incerteza causada pela pandemia, a prioridade foi a resiliência, tanto nos cuidados de saúde, como na preservação da capacidade produtiva. Estes dois campos eram fundamentais para que, controlada a situação sanitária, a procura contida ao longo de quase dois anos desse lugar a uma retoma vigorosa. "Em Portugal assim sucedeu, muito graças ao esforço e contributo do tecido empresarial, ao seu elevado profissionalismo, às medidas de apoio delineadas pelas autoridades e a um setor financeiro robustecido, que disponibilizou apoios financeiros muito relevantes".
Esta capacidade de resiliência foi também destacada por Fernando Medina que apresentou, como prova disso, os inegáveis dados económicos. "A Comissão Europeia veio atualizar as suas projeções para o crescimento da economia portuguesa e, de todas as economias europeias, a verdade é que a economia portuguesa crescerá mais de 6%, refletindo o maior crescimento económico dentro das economias da Zona Euro, no período de 2020 a 2023", disse, destacando que assim, o nosso país crescerá mais do que outras economias de maior dimensão, como Alemanha, Itália ou Espanha.
A discutir os apoios ao investimento esteve Gonçalo Regalado, que afirmou que Portugal receberá, nesta década, o maior pacote de fundos europeus que alguma vez recebeu na sua história: "Em incentivos, serão 51 mil milhões de euros, cerca de 10 mil milhões de euros da Política de Agrícola Comum, mais de 16 mil milhões de euros do PRR e ainda teremos o Portugal 2030, que trará 23 mil milhões de euros de investimentos com incentivos à economia portuguesa. As três áreas vão condicionar e mobilizar um investimento de 100 mil milhões de euros até ao final da década e esse investimento está muito concentrado nos anos de 2022, 2023 e 2025", isto porque existem três programas a funcionar ao mesmo tempo.
Na fase de debate, moderada pela Diretora do Dinheiro Vivo, Joana Petiz, foram discutidos os Principais Desafios de Investimento Empresarial do País. Jorge Portugal foi um dos intervenientes e mostrou-se bastante positivo quanto ao PRR, devido ao potencial das empresas nacionais e à abundância de capital de investimento. "Olhamos para o PRR e vemos que há áreas que estão a crescer e cuja procura mundial vai aumentar e, consequentemente, é onde vai estar o interesse dos investidores depois. O grande desafio é que não se produza apenas invenção, mas também mais desenvolvimento e inovação, ou seja, não olhar apenas para a capacidade de resolver o problema tecnológico, mas de encontrar uma forma de industrializar o produto, ter a capacidade de encontrar um canal para o mercado, fazer o marketing, encontrar parceiros para a comercialização".
Já Hermano Rodrigues, considera a "urgência" o maior desafio do PRR: "Urgência a dois níveis, por um lado ao nível do investimento, porque o período que temos para executar este investimento é muito curto e as dificuldades que se antecipam para executar uma parte desses investimentos são grandes. Por outro lado, urgência nos resultados. Os projetos não são meramente de investigação e desenvolvimento, são também de inovação, e inovar com resultados no mercado, que sejam um sucesso, é difícil e leva tempo".
Entre os vários desafios, José Gomes destacou o licenciamento que tem de haver e que, por vezes, demora, assim como a interdependência das várias empresas que fazem parte de um consórcio, levantando vários desafios ao nível da gestão. No entanto, nem tudo são dificuldades e António Carlos Rodrigues mostrou-se otimista quanto ao tema: "O sucesso desta nossa capacidade de concretizar o PRR é, de facto, conseguirmos fazer a conversão de capital em ativos físicos, que façam com que as nossas empresas se tornem mais competitivas".
Além dos desafios, existe um conjunto de riscos que vão surgindo ao longo do caminho percorrido destes investimentos, alguns possíveis de prever e outros não, conforme defendeu José Rui Felizardo: "Nos próximos anos vamos ter de mudar o pneu do carro, com o carro em andamento, com todos os riscos que isso acarreta".
A fechar esta sessão esteve João Nuno Palma, que acredita que "se existe em Portugal um exemplo de recuperação e resiliência, acrescentaria até de capacidade de renovação, são os empresários e as empresárias. Foram sempre eles os agentes económicos que permitiram que Portugal recuperasse a sua economia em todas as últimas crises".