Bioeconomia, biodesign, biomateriais. Foram alguns dos temas abordados na quinta edição da iTechStyle Summit, uma organização conjunta CITEVE e Têxtil ETP.
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O Terminal de Cruzeiros de Leixões, em Matosinhos, foi, durante três dias, um centro de discussão onde empresas, academia e toda a comunidade do setor têxtil, incluindo órgãos e governação, puderam ficar a par das últimas tendências, estratégias, oportunidades e desafios.
Não se pretendia uma conferência científica, nem, apenas, um fórum de negócios. E assim foi. A edição número cinco da iTechStyle Summit foi uma imensa plataforma, por onde passaram 600 participantes. Ao palco subiram 54 oradores, de 12 nacionalidades. Em conjunto desenharam o presente e o futuro do setor, com vista à redução da utilização de matérias-primas de origem fóssil e adoção de métodos de produção mais sustentáveis.
O lançamento do projeto Be@t foi na última edição do iTechStyle Summit e tem como objetivo o aproveitamento de recursos biológicos, em alternativa às matérias de base fóssil.
Braz Costa, diretor-geral do Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal - CITEVE -, convocou todos os intervenientes na cadeia de valor do setor têxtil e lançou o desafio de antecipar o futuro: "Temos tentado sempre trazer os temas que são mais prementes, ou aqueles que nós entendemos que, não estando ainda disseminados, vão aparecer na vida das empresas num prazo muito curto".
A par da iTechStyle Summit decorreu, também, no Terminal de Cruzeiros de Leixões, a conferência anual da Plataforma Tecnológica Europeia (ETP). Lutz Walter, secretário-geral, apontou o caminho a seguir: "O futuro passa por sustentabilidade, digitalização, novas tecnologias, novos materiais, novas aplicações para os têxteis e novas áreas, para além da moda, de decoração e aplicações técnicas".
Lutz Walter deu ainda conta dos principais desafios que a indústria têxtil vai enfrentar num horizonte máximo de cinco anos: "Na minha opinião, o desafio número um será a mão de obra qualificada. Não só em Portugal, mas em toda a Europa. Temos uma indústria conhecida por ter perdido muitos empregos e agora estamos em busca de trabalhadores qualificados. Em todos os níveis. Não só na área da produção, mas até ao topo, à administração: técnicos, engenheiros, pessoas com excelentes competências técnicas. Durante muitos anos, esta indústria teve uma imagem negativa e os jovens não se sentiam atraídos para trabalhar nela, por isso, existe esta falha".
BE@T
Há um projeto que junta empresas com criativos para transformar a indústria do têxtil nacional mais sustentável: o Be@t é um projeto que está alinhado com o passaporte digital de produto europeu e conta com fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Cabe ao CITEVE liderar este consórcio do setor têxtil que conta com um investimento total na ordem dos 138 milhões de euros, dos quais 71 milhões são verbas do PRR. O objetivo é uma mudança de paradigma que se concretiza no aproveitamento de recursos biológicos, em alternativa às matérias de base fóssil, sem abdicar de elevados padrões de qualidade.
O Be@t agrega 54 promotores - desde empresas, universidades, centros tecnológicos e outras entidades - e tem uma duração prevista de três anos, abrangendo desde as matérias-primas ao design, à investigação e à produção.
"O futuro passa por sustentabilidade, digitalização, novas tecnologias, novos materiais, novas aplicações para os têxteis e novas áreas, para além da moda, de decoração e aplicações técnicas".
No final do dia 11, a sessão de lançamento do Be@t, no Terminal de Cruzeiros de Leixões, em Matosinhos, contou com a presença de 400 convidados, entre os quais, o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro.
Numa intervenção na iTechStyle Summit, o governante assumiu que "as expectativas são as maiores, até porque cabe-me a mim, na prática, puxar sempre pela ambição que o setor industrial do nosso país tem. O setor do têxtil e vestuário é muito importante no nosso país, do ponto de vista económico e tendo em conta o desenvolvimento que tem tido nos últimos anos, em que tem enfrentado múltiplos desafios de competitividade e, agora, é o da sustentabilidade. É muito importante termos mecanismos e formas para explorar esses caminhos. A inovação existe uma fase de investimento e de teste e depois é preciso mudanças mais alargadas no setor".
Bioeconomia na Europa
A comissária europeia para a Coesão e Reformas foi outra das convidadas da iTechStyle Summit. Elisa Ferreira abriu o programa do segundo dia da conferência e deixou uma mensagem muito clara aos especialistas europeus do setor: "O reaproveitamento dos materiais, a alteração dos materiais e o desenvolvimento de novas técnicas de produção menos impactantes sobre o ambiente e a natureza são linhas importantes. É muito importante e estratégico para o país continuar nestas ligações entre o saber e as empresas. É isso que nos pode dar a sustentabilidade para o futuro".
Em Bruxelas, a agenda da sustentabilidade e da circularidade tem prioridade máxima e está aberta ao contributo de todos. Elisa Ferreira deixa, por isso, uma mensagem aos empresários portugueses: "É sempre melhor ser líder do que ser liderado, e Portugal tem capacidade para estar na linha da frente. O importante é liderar, é ter produtividade, é conseguir gerar empregos. Há um grande desafio, nomeadamente o ambiente, a poupança da energia, a utilização de materiais que possam fazer a economia circular, mas há também apoio no sentido estratégico e, no caso português, há uma enorme capacidade histórica de desenvolver, nas suas várias dimensões, todo o seu potencial de inovação e tecnologia que fazem parte desta indústria".
O futuro da sustentabilidade
Na hora de fazer um balanço da quinta edição da iTechStyle Summit, o diretor-geral do CITEVE nota que o caminho da sustentabilidade no setor do têxtil e vestuário já não tem retorno. Braz Costa garante que, em Portugal, "o nível de preocupação com a sustentabilidade é elevado e não é apenas uma questão filosófica, sem consequências. É mesmo uma preocupação das empresas. A inovação na área da sustentabilidade é uma oportunidade, é uma forma de liderar processos e manter o nível de competitividade".