O Serviço Nacional de Saúde gastou, entre 2015 e 2018, 2,4 milhões de euros em hospitalizações causadas pelo VSR, um vírus muito comum entre bebés e crianças e altamente contagioso.
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Bronquiolites e pneumonias são as principais consequências da infeção por VSR, sigla do vírus sincicial respiratório cujo nome não tem fácil pronuncia, que está na base das principais infeções respiratórias pediátricas, sendo o principal agente que leva à hospitalização de crianças até aos dois anos de idade. Estima-se que 90% destes casos sejam por infeção por vírus sincicial respiratório.
A maioria das hospitalizações ocorre em crianças saudáveis. Os pais, muitas das vezes, confundem o VSR com a gripe ou constipação porque os sintomas da infeção se assemelham aos de outras patologias, como o nariz entupido, a tosse, a pieira ou a perda de apetite, ainda que depois resultem em bronquiolite ou pneumonia. No entanto, nos últimos anos, o conhecimento está a gerar uma mudança de paradigma na noção real do verdadeiro impacto do vírus.
A gravidade clínica e as consequências estão nesta época do ano bem à vista, contribuindo para aumentar o recurso às urgências e preenchendo as páginas do Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe e outros Vírus Respiratórios do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). Na semana passada, o documento era taxativo: "mantém-se a tendência crescente no número de internamentos por infeção de VSR em crianças menores de 24 meses".
É nesta publicação que também são publicados os resultados apurados pela rede de vigilância criada pela Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) em colaboração com o INSA e envolve 20 hospitais. Esta iniciativa permite conhecer as características não só dos vírus, mas também das crianças infetadas, nomeadamente sexo, idade, fatores de risco e motivo de internamento, bem como a gravidade.
Época do VSR estende-se de novembro a março
É nesta época de temperaturas mais baixas que o vírus tem maior propagação em creches e estabelecimentos escolares. A transmissão acontece através de secreções, como tosse ou espirros, e contacto físico próximo. O VSR pode permanecer ativo durante muitas horas nas mãos ou objetos contaminados e mais de 30% das infeções ocorrem entre irmãos ou crianças próximas.
Os pediatras identificam a época de novembro a março como a mais perigosa. A sazonalidade é referenciada em diversos estudos como o Burden of Acute Respiratory Infetions (BARI), que demonstrou que a larga maioria dos internamentos, 92%, ocorre durante as épocas sazonais estudadas. O BARI permitiu avaliar a carga de hospitalizações potencialmente relacionadas com o VSR em hospitais públicos portugueses, em crianças com menos de cinco anos de idade.
Para além da concentração sazonal e de acordo com estes resultados, o Serviço Nacional de Saúde gastou, entre 2015 e 2018, 2,4 milhões de euros em hospitalizações causadas pelo VSR. Se a este número forem acrescentadas as restantes hospitalizações por bronquiolites e outras infeções respiratórias sem causa específica, bem como os gastos em urgências e tratamento ambulatório, percebe-se que o fardo resultante, também em termos económicos, é bastante elevado. Esta carga negativa foi já reconhecida no Plano Nacional de Saúde 2030, que destaca as patologias respiratórias como um problema de saúde com grande magnitude e em crescimento, podendo mesmo causar morte prematura e evitável.
Realidade do VSR discutida no Parlamento
Com base nestas preocupações foi criada a iniciativa RSV Think Tank - Inspirar à Mudança. Trata-se de um grupo multidisciplinar de peritos, constituído por profissionais de saúde (médicos e enfermeiros), economistas da saúde, ordens profissionais, sociedades científicas, decisores políticos e associações de pais, que desenvolveu 10 medidas para combater o VSR em Portugal.
Para espoletar o debate e inspirar ações concretas para mitigar a problemática, o painel de especialistas irá realizar, no próximo dia 12 de dezembro, no auditório Almeida Santos, na Assembleia da República, a conferência "Prevenção do Vírus Sincicial Respiratório - Uma prioridade Nacional de Saúde".
A transmissão acontece através de secreções, como tosse ou espirros, e contacto físico próximo.
Ao nível do impacto económico e psicossocial das infeções por VSR serão apresentados dados preliminares de um inquérito desenvolvido entre as famílias das crianças doentes. Trata-se de uma investigação nacional que aprofundou o grau de conhecimento da realidade associada ao VSR e que propõe medidas para desenvolver melhor a estratégia preventiva no contexto português. Será também conhecido um "Position Paper" do Think Tank que, entretanto, será divulgado por publicação científica internacional.
A Região Autónoma da Madeira já decidiu de forma pioneira avançar com uma medida de imunização contra o VSR para todas as crianças e será um dos exemplos apresentados pelas autoridades de saúde regionais. A TSF é parceira desta iniciativa e faz a transmissão online no site para que todos possam acompanhar o debate. Conheça abaixo o programa completo.
09h30 | Receção
10h00 | Boas-vindas
Deputado Jorge Seguro Sanches, Presidente da Subcomissão de Saúde Global da Assembleia da República
10h05 | Vídeo: A visão de futuro de um painel multidisciplinar
I: O impacto das doenças causadas por VSR - Resultados de estudos nacionais
Ricardo Mexia, Médico de Saúde Pública e Epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA)
Teresa Bandeira, Pneumologista Pediátrica da Unidade de Pneumologia Pediátrica do Departamento de Pediatria do Hospital Santa Maria
10h15 | Apresentação: Desafios para o Sistema Nacional de Saúde
Gustavo Januário, Pediatra do Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
10h25 | Apresentação: O impacto para as famílias e sociedade civil
Eduardo Costa, Presidente da APES - Associação Portuguesa de Economia da Saúde
10h35 | Vídeo: Testemunhos de vida real
10h40 | Apresentação: VSR como prioridade Nacional de Saúde - Metas Plano Nacional de Saúde 2030
Manuel Magalhães, Pediatra da Unidade de Pneumologia Pediátrica do Centro Materno-Infantil do Norte
Gustavo Tato Borges, Médico de Saúde Pública e Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública
II: Estratégias preventivas contra a doença causada por VSR
Moderação: Luís Varandas, Infeciologista e Diretor do Serviço de Pediatria do Hospital da Estefânia, Centro Universitário Hospitalar Lisboa Central
11h00 | Painel de discussão: Estratégias para a Implementação Nacional: Visão Técnico-Científica
Bruna Ornelas de Gouveia, Direção Regional de Saúde da Região Autónoma da Madeira
Gustavo Januário, Pediatria, Hospital Pediátrico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
João Farela Neves, Pediatra do Serviço de Pediatria do Hospital da Estefânia e Diretor do Serviço de Pediatria da Luz Lisboa
Marta Valente Pinto, Presidente da Comissão Técnica de Vacinação da Direção-Geral da Saúde e Assistente Hospitalar de Pediatria do Centro Universitário Hospitalar Lisboa Central, Hospital Dona Estefânia.
11h30 | Painel de discussão: Estratégias para a Implementação Nacional: Visão Política
Moderação: Carlos Raleiras, Jornalista
Pedro Ramos, Secretário Regional da Saúde da Região Autónoma da Madeira
Deputada Berta Nunes, Grupo Parlamentar do Partido Socialista
Deputado Pedro Melo Lopes, Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata
Deputado Pedro dos Santos Frazão, Coordenador Grupo Parlamentar do Chega na Comissão de Saúde
Deputada Joana Cordeiro, Coordenador Grupo Parlamentar da Iniciativa Liberal
Deputado João Dias, Coordenador do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português na Comissão de Saúde
Deputada(o), Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda
12h10 | Conclusões
Manuel Magalhães, Pediatra da Unidade de Pneumologia Pediátrica do Centro Materno-Infantil do Norte
Ana Rita Dias, Consultora Científica da MOAI
12h30 | Encerramento
Rita Sá Machado, Diretora-geral da Saúde
Deputado António Maló de Abreu, Presidente da Comissão de Saúde da Assembleia da República