No dia mundial do compositor, a TSF compôs quatro peças sobre o contexto dos compositores nacionais, com a ajuda da compositora portuguesa Isabel Soveral.
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O compositor é aquele que compõe músicas como "um alimento para a alma".
A música de Isabel Soveral tem sido apresentada por todo o mundo. Em Portugal, é a própria compositora que afirma que a música erudita está a perder espaço nas grandes salas nacionais. "A Europa está em maus lençóis", afirma.
No dia do compositor, perguntámos-lhe como surge uma composição musical. Isabel Soveral confessou que é sempre um ato solitário e que a parte mais dolorosa é a materialização através do outro daquilo que se criou.
O mar é uma das fontes de inspiração da compositora e professora na Universidade de Aveiro, que não consegue ensinar os seus alunos a encontrar inspiração. "A verdade é que não se ensina a encontrar inspiração para compor". Parte-se de "uma tela branca". E, este primeiro momento "é o ADN da obra".
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Neste primeiro som ouve-se "Paradesoi" - uma composição da própria Isabel Soveral para a Fundação Calouste Gulbenkian em 2007, com a Orquestra Gulbenkian e o maestro Pascal Rophè.
Nunca uma obra final é aquilo que escreve um compositor. Nunca é real, é uma espécie de sonho, até que se materializa pelos intérpretes.
No momento da estreia há um sentimento de perda: a obra quase que deixa de ser do compositor. Por isso, o trabalho do interprete é, para Isabel Soveral, impactante no trabalho do compositor.
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Nesta reportagem áudio ouve-se "O DRAGÃO Watatsumi", composto para o Grupo Drumming, com estreia no Teatro Aveirense, em 2015, com percussão e eletrónica do Grupo Drumming.
Para a compositora portuguesa Isabel Soveral, uma obra, durante o momento da composição, é como que um sonho, o que pode ser mágico ou até doloroso
A última geração
Poderemos estar perante a última geração de compositores. A música erudita está a perder espaço nas salas nacionais e Europeias.
Atualmente são os alunos os primeiros a não se assumirem como compositores. Assumem-se como multidisciplinares, numa fusão de som e imagem, o que faz com que a imagem clássica do compositor, erudito, esteja a desaparecer.
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Nesta reportagem áudio ouve-se, de fundo, o som de "Anamorphoses IX" - fragmento, composto para a Casa da Música, com estreia em 2018, no concerto Portugal XXI. Toca a Orquestra Sinfónica do Porto, o Violoncelo de Romain Garioud, e o maestro é Pablo Rus Broseta.
Os compositores são mais, os espaços são os mesmos, e a atenção dada à cultura clássica e erudita é cada vez menor.
Na Cultura, diz Isabel Soveral, são os europeus quem está a estragar a Europa, privilegiando as músicas do mundo àquela que é a música de identidade europeia. A Europa já não é o que era. Na música e na cultura em geral.
A também professora da Universidade de Aveiro concorda que estamos perante uma perda de identidade e, no campo da cultura, esta perda está diretamente ligada com a globalização e o domínio norte-americano.
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Neste áudio ouvimos "Oium II, que estreou na Comune di Firenze, em Itália em, 1986, com som do clarinete de António Saiote.
O contexto é caótico. Para a música erudita, mas para a cultura em geral. A compositora Isabel Soveral diz mesmo que a Europa, a continuar assim, está "em maus lençóis".
A cultura americana impõe-se, na perspetiva da compositora, onde o foco é o entretenimento. A arte é mais do que isso.
É da Europa, que hoje está de costas voltadas com a música erudita, que saem os nomes dos compositores que mais marcaram Isabel Soveral, Beethoven é um deles.