Lugares mágicos, viagens no tempo, casas abandonadas, crianças misteriosas com poderes especiais, guardiões com capacidade para mudar de forma e vilões deformados... Há de tudo neste filme.
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"A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares" é uma história feita para Tim Burton. Há mesmo quem brinque com o tema e diga que Ransom Riggs - o autor do conto que dá origem ao filme ("O Lar da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares", publicado em 2001) - a escreveu para Tim Burton um dia a poder realizar para o grande ecrã.
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O filme segue a vida Jack (Asa Butterfield), um jovem desajustado da realidade que o rodeia, mais próximo do avô que dos pais. A aventura começa quando decide partir ao encontro de um enigmático lar para crianças, algures numa ilha no País de Gales, tendo por guia apenas um mapa e as histórias fantásticas contadas pelo avô, entretanto falecido.
A viagem leva-o ao lar que dá nome ao filme, gerido pela Senhora Peregrine (Eva Green), uma mulher que se transforma em pássaro. Nele habitam várias crianças, cada uma com a sua peculiar habilidade, quase ao jeito dos poderes de um super-herói: uma menina que manipula o ar, um menino com abelhas a viver no seu estômago, um rapaz invisível... E todos vivem o mesmo dia, uma e outra vez, retidos pacatamente numa espécie de bolha temporal que os mantém em segurança sempre no mesmo dia.
É uma vida tranquila, apesar das peculiaridades deste grupo, até que entra em cena o vilão do filme, Mr Barron (Samuel L. Jackson), e seus capangas sem olhos e com tentáculos em vez de mãos. E a partir daqui é a luta pela sobrevivência.
O realizador, que em mais de 30 anos de carreira nos habituou a um estilo e estética muito próprios, está em sintonia com a história original criada por Riggs. No filme não faltam as fotografias antigas e os cenários muito "british", a que Riggs recorre e o realizador adora.
Também a estranheza das personagens é perfeita para o realizador. Eva Green, que retoma a parceria com Tim Burton depois de "Sombras da Escuridão", está excelente no papel da Senhora Peregrine. Um cabelo negro bem estruturado, eyeliner exagerado, uma postura imperial e unhas que lembram as garras do pássaro em que se transforma, toda a interpretação é feita de um rigor notável. Terá Tim Burton encontrado uma nova musa?
Na gestão das expectativas, convém dizer que "A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares" não é um "Eduardo Mãos de Tesoura" ou "a Noiva Cadáver". O argumento não deixa de ser algo previsível e não há propriamente um momento "uau". Mas é um Tim Burton no ponto certo e, talvez, um dos seus melhores trabalhos dos últimos anos.
Para quem segue o trabalho do realizador, esta será uma oportunidade para lembrar excelentes referências a trabalhos anteriores, um regressar a casa com muito carinho. Para as audiências mais novas, é uma excelente introdução à estética deste realizador tão peculiar.
"A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares" chega às salas de cinema portuguesas esta quinta-feira, 29 de setembro, um dia antes da estreia nos Estados Unidos.