"Um dia, nosso corpo será verdade, um dia haverá praias e o corpo saberá de cor a curva do horizonte. (...) Um dia será logo, será hoje. Um dia será. Um dia a coragem será uma pequena pedra, ferir com mão certeira o alvo (...)".
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Gravámos esta conversa na tarde de 25 de Abril de 2018, em casa de Teresa Rita Lopes, que tinha acabado de rever o filme "Os capitães de Abril", de Maria de Medeiros. Não espanta por isso que aquele Maio e aquele Abril façam intenso curto-circuito na memória da professora universitária, autora e profunda estudiosa de poesia, sobretudo da obra de Pessoa.
"Acto(s) poético(s)", é assim que Teresa classifica os acontecimentos de 68 em Paris, onde estava exilada a fazer o doutoramento na Sorbonne, com uma bolsa da Gulbenkian. Pouco depois do Maio de 68, época partilhada com os também exilados António José Saraiva e Maria Lamas, haveria de ser professora na universidade onde antes estudara.
"Este livro é oferecido à Teresa", escreve o próprio António José Saraiva (1917-1993) na página zero de "Maio e a Crise da Civilização Burguesa", editado pela Gradiva, obra que fascina pela clareza e força com que relata o final de Maio, Junho e Julho de 68, no calor daquela primavera que esfriou no verão. Nas páginas do diário de João Cândido - "A insurreição de Maio. «Diário» de um marginal" - o autor narra alguns daqueles dias em que "o pensamento andava mais depressa; aparecia ao alcance da mão o que antes era impensável; as nossas pequenas pessoas, desabituadas de viver, eram solicitadas, submergidas a cada instante pelo que não cabia nelas. Toda a literatura parecia pequena, todos os sonhos incolores. (...) Há uma pureza feminina que desperta. As mulheres sentem talvez isto mais imediatamente do que nós. E é isto que é preciso salvar. Este abrir de flores, até agora aparentemente fechadas. Este viço que todas as imagens publicitárias atraiçoam. É a revolução da Primavera".
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