Licenciado em Turismo, Sérgio Carvalhosa nunca excerceu na área. Vive de concertos, a solo, em dueto com voz feminina e piano, e com o projeto Triunvirato, que partilha com o irmão. Mas é à rua que vai buscar sustento.
Corpo do artigo
Os dias de sol são dias de trabalho na rua para Sérgio Carvalhosa, músico profissional, com 33 anos, que após a pandemia começou a tocar nas ruas de Viana do Castelo e Coimbra, para mostrar o seu trabalho.
Licenciado em Turismo, nunca exerceu na área. Vive de concertos, a solo, em dueto com voz feminina e piano, e com o projeto Triunvirato, que partilha com o irmão. Mas é à rua, que considera ser “o maior palco do mundo”, que vai buscar, além de sustento, reconhecimento e esperança de vingar no mercado da música.
Situações como a que lhe aconteceu há dias em Viana do Castelo, em que um casal enamorado se abraçou a dançar ao som da sua música, dão-lhe ânimo para continuar a aventura, que começou há cerca de três anos.
“Sempre tive alguns projetos musicais, até que começou o covid, infelizmente, que nos fez passar algum tempo em casa e, desde aí, comecei a ganhar um gosto extra pela música, a fazer lives e com presença em algumas plataformas que acabavam por me pagar. Quando a vida começou a voltar à normalidade, como tinha deixado o meu trabalho, acabei por arriscar. Estou a morar em Coimbra e lá tem muito essa cultura de música na rua”, conta Sérgio, recordando que de início tocava "sem colunas e sem microfone”, mas atualmente já possui equipamento próprio para as atuações ao ar livre. “Acabou por dar tudo certo. Hoje em dia, vejo bastante potencial neste tipo de trabalho, não a título definitivo, mas vamos ver o que a vida nos reserva”, considera.
Nas ruas de Viana, Sérgio Carvalhosa tem apaixonado transeuntes.
“Já me aconteceu de tudo. Noventa e nove por cento são situações boas, o que me traz algum retorno emocional e mesmo financeiro, que me permite continuar a fazer isto. Tenho situações muito bonitas”, afirma o músico, referindo que “guarda amizades feitas na rua, com pessoas muito mais velhas”, porque “o carinho é tanto que a idade deixa de ser impedimento para o que quer que seja".
“Também há situações com pessoas, que não respeitam tanto o trabalho. Por estarmos num ambiente público, acontece como em todo o lado, mas o mais importante são as coisas boas que a rua nos dá. É o maior palco do mundo, porque não tem limite e qualquer pessoa que passa está a ouvir. É bom para passar a palavra, a nossa música e emoções”, continua.
Sérgio gosta especialmente do tema “Meu fado meu”, interpretado por Mariza, mas toca muito Rui Veloso e Quatro e Meia.
Há quem o ouça e se emocione. “Senti que já marquei o dia de uma forma feliz, muitas pessoas. Isso não tem preço. Já tive situações de pessoas agarradas a chorar. Um casal apaixonado, na semana passada, foi muito bonito, porque, além de se notar o amor que estão a viver neste momento, libertaram-se, sentiram a música e dançaram”, relata.
O momento aconteceu na Praça da República em Viana do Castelo, onde a voz aguda de Sérgio Carvalhosa marca a diferença. “Dia sim, dia não, pessoas vem sempre alguém à minha beira, dizer que quando me ouviu pela primeira vez, pensava que era uma senhora a cantar. Acabo por levar isso como um elogio, porque se tivesse uma voz mais masculina, era mais banal. Antes não gostava, mas hoje em dia acabo por apreciar esse diferencial”, comenta.
O músico da voz aguda e feminina, até já tentou a sorte num concurso de talentos, mas por agora cumpre o seu fado, ao sol e com confiança que o seu dia há de chegar.
“Se Deus quiser, um dia as coisas vão-se alinhar e vão dar certo”, conclui.
