Abertura da Capital da Cultura do Eixo Atlântico: Portugal e Galiza formam “um país cultural”
Espetáculo “Mar Adentro”, de Daniel Pereira Cristo e convidados, entre eles o músico galego Xabier Díaz, assinala esta noite em Viana do Castelo o arranque oficial de um ano de programação dedicada à euro-região
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"Achégate a mim, Maruxa chégate ben, moreniña
Quérome casar contigo serás miña mulleriña (…)”.
O músico minhoto Daniel Pereira Cristo cantará, esta noite, no espetáculo de abertura de Viana do Castelo, Capital da Cultura do Eixo Atlântico 2025, com o galego Xabier Díaz a canção ‘Achégate a mim, Maruxa’, com letra da poetisa galega Rosalía de Castro, e que Zeca Afonso celebrizou dos dois lados da fronteira luso-galaica.
“É uma das cantigas mais irónicas do que é este abraço de Portugal e a Galiza”, afirmou, no domingo, durante o ensaio, Pereira Cristo, multi-instrumentista e cantautor natural de Braga, que conduzirá o concerto, intitulado "Mar Adentro", com mais de uma centena de artistas em palco. Pereira Cristo considera que será um momento de “celebração” de duas regiões, que formam “um país cultural”.
“Vai ser um espetáculo que pretende celebrar esta cultura milenar da forma que for possível. Não sabemos quais eram os sons que há mil anos se ouviam cá, mas temos uma grande certeza: é que mil anos de fronteira Portugal-Espanha não conseguiram separar esta língua e esta cultura tão semelhantes”, afirmou, sublinhando: “É uma cultura muito semelhante, com ritmos, formas de ser, de cantar e de trajar muito semelhantes. E é isso que vamos celebrar, estes ritmos vibrantes deste Noroeste Peninsular. Em que o Vira do lado de cá, é a Xota do lá de lá.”
Pereira Cristo e os seus convidados, entre os quais o galego Xabier Díaz, músico, compositor e investigador do folclore tradicional da Galiza, percorrerão os cantares do Eixo Atlântico de lés a lés.
“O espetáculo procurará ter música de toda a região do Noroeste Peninsular. Será possível reconhecer música de Trás-os-Montes, da Beira Alta, do Minho, da Galiza. O galego e até o mirandês. No fundo, é uma viagem por esta euro-região, que tem uma cultura comum, mas com algumas peculiaridades”, descreve o artista, cujo trabalho assenta em instrumentos e música milenares, com particular foco no cavaquinho, na viola braguesa, no canto e na poesia.
A cantiga ‘Achégate a mim, Maruxa’, símbolo da união de galegos e portugueses, junta ao repertório Zeca Afonso, que considerava a Galiza a sua “pátria espiritual”.
“Também homenageamos os nossos cantautores que usaram como ninguém estas nossas raízes tradicionais, reinventadas. Fausto, Zeca Afonso, são referências. E o Zeca personifica muito esta ligação Portugal Galiza, porque ele era e é muito querido na Galiza”, recorda Daniel Pereira Cristo.
O concerto, que assinala o errante de um ano inteiro de programação em Viana do Castelo, dedicada à cultura e agentes culturais dos dois lados da fronteira, incluirá ainda danças tradicionais da Associação de Grupos Etnográficos do Alto Minho e contemporâneas da EVIC, cantares das Cantadeiras do Vale do Neiva, e participação do Teatro do Noroeste.
Também atuará a artista emergente Malva, que cantará “Manada”, uma canção que, segundo a própria, “nasceu precisamente de comunhão entre pessoas bastantes diferentes, mas que se uniram para fazer um espetáculo”. “Achamos que seria adequado trazê-la aqui uma vez que isto é sobre união entre a Galiza e Viana”, disse.
Xabier Díaz refere-se a Cristo como seu “irmão do sul”, enquanto Daniel lhe chama, por sua vez, “irmão do norte”, e considera que montar um espetáculo com portugueses e galegos “foi fácil”.
“Partilhamos muitas coisas, o que facilita tudo muitíssimo. São culturas muito familiares, que fazem com que o diálogo entre duas músicas diferentes seja fértil”, resumiu, afirmando que a sua comunicação com o músico minhoto, parceiro de espetáculo, também ajudou. “Vimos os dois das músicas da terra, da música mais tradicional e isso facilita o nosso entendimento”, frisou, concluindo: “Eu trago um bocadinho da Galiza e de certeza que o Daniel montou um espetáculo maravilhoso, com músicos tremendamente engraçados. As pessoas que venham ver, com muita alegria. É disso que se trata.”
