Academia de Amadores de Música em protesto: sem novas instalações, "certamente teremos o final da instituição a prazo"

Paulo Spranger/Global Imagens (arquivo)
Em declarações à TSF, o diretor da academia sublinha que, com as atuais "circunstâncias do mercado imobiliário em Lisboa", a instituição vai ser "obrigada" a ir "muito para fora do centro da cidade e, a prazo, isso vai "inviabilizar a atividade letiva na escola" e, consequentemente, ditar o seu "fecho"
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A Academia de Amadores de Música realiza esta terça-feira, data em que a instituição celebra o 141.º aniversário, um protesto em frente à Câmara de Lisboa, na Praça do Município, para exigir novas instalações na cidade.
Em declarações à TSF, Pedro Barata, diretor da academia, lamenta que ao "fim de vários anos" a instituição continue com "muito pouca visibilidade" para potenciais soluções para o problema, ainda que já tenha pedido apoio à autarquia, ao Ministério da Cultura e à administração central.
"Vamos ser forçados a sair das atuais instalações pelo nosso senhorio em setembro deste ano", esclarece.
Indo mais longe, o diretor da instituição garante que é a continuidade da instituição "a longo prazo" que está em causa. Mas também há já efeitos práticos a curto prazo, ainda que a "instituição" não pare para já "por causa disso": se a situação continuar por resolver, o ensino no ano letivo de 2025-2026 será "inviabilizado" ou realizado fora do centro de Lisboa.
"Com as atuais circunstâncias do mercado imobiliário em Lisboa - se não tivermos algum tipo de solução que permita a compra ou aluguer de um imóvel - seremos obrigados a ir muito para fora do centro. A prazo, isso vai inviabilizar a atividade letiva na escola e vai determinar que teríamos de fechar. Ou seja, não fecharíamos em setembro, mas certamente iríamos ter o final da instituição a prazo", declara.
A Academia de Amadores de Música (AAM), que se encontra instalada num edifício na Rua Nova da Trindade, no Chiado, do qual terá de sair daqui a menos de seis meses, disse que “a manutenção desta instituição num regime com nova renda e sem garantias de proteção para lá de 2027 se tornou inviável”.
“Mercê da incapacidade do sistema político de oferecer uma solução de longo prazo para a situação da Academia, esta viu-se constrangida a negociar um acordo para a saída das suas atuais instalações. Apesar dos esforços desta instituição, a Academia não encontrou junto das várias entidades políticas que consultou nenhuma resolução para o atual problema”, expôs a associação, reforçando que a AAM continua sem um espaço futuro para acolher esta escola de música em Lisboa.
Fundada em 18 de março de 1884, contabilizando 140 anos de atividade contínua, sendo a mais antiga escola artística privada do país em funcionamento, a AAM tem de abandonar as atuais instalações no Chiado "até ao final do mês de agosto deste ano", por incapacidade para pagar a nova renda, que passou de 542 euros para 3728, pondo em causa o ensino de música de 320 alunos e o emprego de 40 professores.
Confirmando o que o presidente da AAM, Pedro Barata, tinha adiantado em 21 de fevereiro numa conferência de imprensa sobre o processo da associação para encontrar um novo espaço na cidade de Lisboa, a Academia irá celebrar o seu 141º aniversário com um protesto em frente à Câmara de Lisboa, na Praça do Município, com a participação de grupos de pais, professores, alunos e amigos desta escola de música.
O protesto irá contar com um concerto, com a execução de algumas peças pelo ensemble de sopros e alguns ensembles de saxofone, seguindo-se o tema “Acordai”, instrumental e cantado, indicou a AAM, em comunicado.
Na busca por novas instalações, o presidente da AAM disse, em 21 de fevereiro, que existiam quatro opções possíveis para acolher a Academia em Lisboa, referindo que a “mais exequível” era a do edifício municipal da Rua Vítor Cordon, na zona do Chiado, mas essa solução anunciada em novembro de 2024 pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas (PSD), teve a oposição da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, que ocupa parte do imóvel.
Foram também apontadas como soluções a Escola Veiga Beirão, no Chiado, o edifício que foi outrora a Direção de Recrutamento Militar de Lisboa, na Avenida de Berna, e o Tribunal da Boa Hora, de acordo com Pedro Barata.
Em 26 de fevereiro, o presidente da Câmara de Lisboa reiterou o compromisso de encontrar uma solução para a AAM, indicando que “não tem sido fácil” encontrar um espaço no centro da cidade.
Na quinta-feira, numa publicação na rede social X, o bloquista Ricardo Moreira, que desempenha, por várias vezes, a função de vereador do BE na Câmara de Lisboa, em substituição da eleita do partido Beatriz Gomes Dias, disse que “a Academia dos Amadores de Música já está à venda”, partilhando o anúncio da venda do imóvel na Rua Nova da Trindade, por 3,6 milhões de euros.
“Todas as crianças e jovens que ali estudam, toda a cultura no centro de Lisboa está em risco de desaparecer por causa de Carlos Moedas. Isto é um dos dias mais tristes para Lisboa”, manifestou Ricardo Moreira.
Em novembro de 2024, a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou, por maioria, uma recomendação do PCP para que a câmara se esforce em encontrar, "com caráter de urgência", um espaço adequado para que a Academia de Amadores de Música continue a sua atividade.
