Agora, como há 50 anos, é com a arte que se grita independência no Paraíso em Braga
Festival Paraíso, em Braga, dedica a edição deste ano às cinco décadas das independências dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa
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Vão ser dias de conversas, cinema e música lusófona. Cinquenta anos depois das independências das antigas colónias portuguesas, o festival Paraíso propõe explorar a cultura, a história e as marcas que ficaram das décadas em que o Estado Novo teimava manter os territórios ultramarinos. A iniciativa começa esta quinta-feira e prolonga-se até ao próximo sábado em três espaços de Braga.
Uma das mais transparentes representações do que se passou durante o período colonial português encontra-se na música africana. É não só mas também por aí que passa o Paraíso, com três dias de reflexão, a começar pelo cinema, no gnration, com a projeção do filme "Independência" de Fradique.
Trata-se de "uma reconstituição do processo de luta de independência de Angola", conta o diretor do festival, Nuno Abreu. Um trabalho que conta com "variadas entrevistas a ex-combatentes".
No dia seguinte, há espaço para "uma conversa livraria Centésima Página para se falar um pouco sobre os 50 anos das independências e também o reflexo daquilo que foi o filme da noite anterior".
Será um aperitivo para um dos pontos altos da programação, que chega na noite de sexta-feira, com a apresentação de "Adílson", no Theatro Circo, a "primeira ópera crioula de Dino D'Santiago" e que já esgotou as primeiras datas em Lisboa.
A obra conta a história de um afrodescendente que vive há mais de 40 anos em Portugal e que nunca conseguiu obter a cidadania portuguesa. O caso não é único, num país que mantém marcas coloniais, que vão ser exploradas numa visita guiada pela cidade de Braga, orientada por Chisoka Simões na manhã de sábado.
“Com este frenesim do dia a dia, uma pessoa não consegue perceber nem reparar em vários símbolos, como nome de ruas ou monumentos” que remetem para o período colonial, sublinha Nuno Abreu.
Nesse mesmo dia, o gnration recebe a conversa "Memórias anoitecidas (Quantos mundos há numa biblioteca, para parir o sol?)" com Ruben Zacarias e moderação de Rosa Cabecinhas.
Esse será o último momento antes de "um dos momentos altos", com os concertos de Banca Monte Cara e de Fidju Kitxora, que acontece no mesmo espaço da cidade de Braga.
Para o diretor do Paraíso, é uma junção entre duas eras na música, onde há "complementaridade" entre o passado e o presente.
"A Banda Montecara nasce no antigo Clube Montecara, que foi o primeiro clube africano noturno em Lisboa e em Portugal, que foi criado pelo Bana, também músico histórico cabo-verdiano. Por esse bar passaram músicos não só cabo-verdianos mas também portugueses e de outros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. A banda foi criada para resgatar esses tempos áureos desse clube, por ela já passaram um sem número de músicos. Podemos esperar ouvir Dionísio Maio, Paulino Vieira ou Tito Paris", adianta Nuno Abreu.
Já Fidju Kitora "são um dos marcos da música luso-cabo-verdiana, numa toada muito diferente da Banda Monte Cara, mas será certamente uma noite belíssima", antecipa o diretor do festival.