O escritor português António Lobo Antunes falou sobre a sua carreira, a importância que atribui aos prémios e sobre os colegas de profissão, os que admira e os que não gosta.
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António Lobo Antunes está prestes a lançar um novo romance. "A Última Porta antes da Noite" chega às livrarias no dia 15 de outubro e, no dia em que deveria ser anunciado o Prémio Nobel da Literatura, revelou numa entrevista ao Diário de Notícias que desvaloriza o Nobel e que há questões bem mais importantes.
"Estou farto de ouvir falar do Nobel, é apenas um prémio literário em que as últimas pessoas que o têm ganho não me agradam", começou por esclarecer, frisando que "os vencedores dos últimos anos não interessam".
Na opinião do escritor dá-se "excessiva importância" ao prémio e lembra que os prémios Jerusalém, por exemplo, têm "vencedores muito bons ao contrário do Nobel e de outros".
"Não me venham falar em nóbeis, quero que o Nobel se f*** - ponha mesmo assim -, ou na grandeza de uma obra de tantos grandes escritores no mundo depois de Tolstoi. Tenho uma inveja dos poetas que me dano todo, gostava de ser capaz, mas não tenho talento", reforçou mesmo o escritor numa outra altura da entrevista em que apenas houve uma pergunta e na qual Lobo Antunes falou durante cerca de uma hora e meia.
"É uma conversa que já não faz sentido porque tenho tido sorte e as pessoas são generosas comigo. O que posso pedir mais? Não consigo entender um prémio como a glorificação em relação a uma literatura de um determinado país - e eu já ganhei tantos! -, porque se eu contasse os bastidores de alguns nada tinham que ver com literatura. Estou tão ocupado a escrever... Não tem importância, sou melhor do que o Platão...", disse na entrevista.
Apesar de neste momento se recusar a atribuir importância ao Nobel, Lobo Antunes admite que no passado pensava no assunto. "Houve uma altura em que estava bastante sedento disso, estava enraivecido, mas há uns tempos que estou em paz. Era uma reação estúpida e narcisista".
Sobre a sua obra, o artista português assegura que nunca fica "seguro" enquanto está a escrever e revela mesmo que " há muitas versões do livro; as primeiras são imperfeitas, se calhar as últimas também".
"Sendo sincero, não vejo ninguém que escreva como eu, mas sendo ainda mais sincero, eu também não escrevo como eu. Tenho de o fazer melhor, livros mais fortes e que estejam mais perto dos homens. Acho que tenho vindo a conseguir estar mais perto daquilo que considero ser um bom livro. Não sei se chegarei a fazer um bom, e não estou a ser falsamente humilde pois sou bem vaidoso", assegurou.
E em relação ao futuro, Lobo Antunes ressalva que só vai "escrever mais três livros". "Não me importo de deixar de escrever. Já pensei voltar à poesia, como quando tinha 10 anos, mas achava que era tudo tão mau o que fazia que decidi tentar prosa. É mais fácil do que encontrar uma rima".
Na entrevista ao DN, o escritor português disse que, na sua opinião, "Saramago é uma merda...". "Se me quiserem comparar com alguém ponham lá o Antero, o Herculano, ponham assim um escritor. Porque não falam dos dois romances que o Almada [Negreiros] deixou? Estes últimos tempos foram difíceis, morrer um irmão é uma coisa tão estranha... Comecei a olhar para os livros de outra maneira e para aquilo a que se chama sucesso", justificou.