Apesar de pouco conhecida, a Literatura Cigana existe e quer continuar a fazer caminho
No sábado, escritores, artistas e investigadores de etnia cigana ou dela conhecedores vão conversar sobre literatura cigana num encontro na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa
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Bruno Gonçalves, uma das vozes da Ribaltambição - Associação para a Igualdade de Género nas Comunidades Ciganas, assegura que a escrita na comunidade cigana não começou agora. "Existem vários escritores já há várias décadas que têm lançado livros, desde romances a autobiografias e há escritoras de renome como a poeta Papusza", conta à TSF.
Entre os livros publicados por escritores Roma, revela ainda Bruno Gonçalves, há muitas histórias, sobretudo sobre o que passaram no Holocausto: "As comunidades ciganas foram uma das principais vítimas e também livros a que chamam livros de missão. Os livros que eu também lancei. Eu sou autor de dois livros, um livro de Infantojuvenil que se chama A História do Ciganinho Chico e outro que se chama Conhece-me antes de me odiares que tem como principal objetivo dar a conhecer a história e a cultura ciganas e, acima de tudo, desmistificar e quebrar alguns estereótipos."
Para este autor e formador, em Portugal, o preconceito e o desconhecimento são enormes e os discursos populistas e nacionalistas dos últimos anos "têm sido o motor para esse aumento do preconceito". Além disso, "há estigmas que estão muito entranhados e cristalizados na nossa sociedade", acredita Bruno Gonçalves.
Um desses estigmas será talvez: "Os ciganos não vão à escola, portanto, não escrevem livros?" Isso é "uma perfeita mentira", assegura. "Claro que a comunidade cigana durante várias décadas não necessitou da escola para exercer a sua atividade, que é a venda ambulante, não necessitou de uma formação académica alta ou uma mão de obra especializada para tal, claro que há um desfasamento, mas eu sou coordenador da Letras Nómadas no programa OPRE (ciganos no ensino superior), uma política pública e em oito anos conseguimos 36 licenciados e dez mestrados, portanto, é uma mentira enorme."
Bruno Santos garante que atualmente e apesar de existir algum insucesso escolar, os ciganos vão à escola, escrevem, tiram cursos superiores e mestrados e querem fazer parte. "Eu nesta sociedade quero coexistir, quero conviver, nós sabemos que é um processo lento, mas é preciso acreditar para que um dia as futuras gerações não sofram tanto como eu sofro no dia a dia." Bruno acredita que o Encontro da Literatura Cigana é uma oportunidade para combater o desconhecimento e o preconceito.
O Encontro de Literatura Cigana, acontece no sábado, dia 26 de outubro, a partir das 15h00, na Casa Fernando Pessoa e tem entrada livre sujeita à lotação do espaço. Ao longo da tarde haverá conversas com escritores, artistas e investigadores de etnia cigana ou dela conhecedores, para debater questões sobre leitura, escrita e literatura. Veja o programa aqui.