Aristides de Sousa Mendes: após 140 anos, "continua a ser uma referência a nível ético, moral e humano, que está além do tempo"
Assinala-se este sábado os 140 anos do nascimento de Aristides de Sousa Mendes, o diplomata português que durante II Guerra Mundial ajudou a salvar milhares de vidas. À TSF, a especialista Luísa Pacheco Marques afirma que a data é especialmente importante numa altura em que "a bondade e compaixão estão em desuso"
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A Casa do Aido, no Carregal do Sal, onde a 19 de julho de 1885 nasceu Aristides de Sousa Mendes, está a ser requalificada, para dar lugar um centro de acolhimento e integração de migrantes e refugiados. É uma homenagem ao homem que durante a II Guerra Mundial ajudou a salvar 30 mil vidas da perseguição Nazi, enquanto era cônsul em Bordéus e que depois caiu em desgraça, castigado por Salazar.
Um legado, que a especialista Luisa Pacheco Marques considera ser importante recordar, principalmente nos dias de hoje. "Continua a ser uma referência a nível ético, moral e humano, que está além do tempo. A atitude que ele teve de fazer o correto e arcar com as consequências é algo que a sociedade contemporânea necessita, porque vivemos tempos de muito egoísmo e onde a bondade e compaixão caíram em desuso", defende, em declarações à TSF.
Luisa Pacheco Marques sublinha, no entanto, que Portugal não esquece Aristides de Sousa Mendes. A investigadora dá o exemplo de uma visita recente ao museu Vilar Formoso Fronteira da Paz, onde encontrou uma mulher que veio para o país com dois anos, com os pais e irmã, graças às ordens de Aristides de Sousa Mendes. "Ela, já com 87 anos, estava muitíssimo emocionada, porque hoje já mãe e avó, e reconhece que a família só é uma realidade devido aos vistos dados pelo cônsul", conta.
O Centro de Acolhimento e Integração Aristides de Sousa Mendes estava previsto ficar pronto no final de 2025, mas só deverá estar concluído no início do próximo ano, segundo as previsões de Luisa Pacheco Marques, que é também uma das arquitetas envolvidas no projeto.
O organismo nasce com uma missão diferente de tudo aquilo que já existe em Portugal. "É um projeto-piloto, que pretende ser uma luz na forma de acolhimento e de integração. As pessoas têm de receber formação, de serem integradas no mercado de trabalho de uma forma controlada, mas, mais do que isso, temos uma ideia que é criar famílias de acompanhamento, que são voluntários com disponibilidade de tempo e vontade para ajudar os migrantes a integrarem-se na comunidade", explica.
Luisa Pacheco Marques espera que o centro de acolhimento possa ser um "bom exemplo" para outros no país, "até porque Aristides de Sousa Mendes merece que o seu nome não seja só uma memória do passado".