"Às vezes ponho-me a pensar quantas pessoas viveram aqui." A história do Palácio de Sintra trazida pela tecnologia
São 14 pessoas que viveram todas no Palácio Nacional de Sintra, desde rainhas até à serviçal. A exposição que recupera do esquecimento todas as personalidades que marcaram a vida daquele palácio ao longo dos séculos abre esta quinta-feira ao público
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É com recurso a uns auscultadores e a um ecrã que conhecemos a história de Maria da Conceição: foi empregada doméstica no Palácio Nacional de Sintra e nasceu em 1868 em Abomei (antigo Daomé, atual Benim). O ofício de serviçal (termo utilizado à época) foi esquecido ao longo dos séculos, mas é agora recordado na exposição, tal como conta à TSF António Nunes Pereira, o diretor dos Palácios da Parques de Sintra. “Foi serviçal da rainha D. Maria Pia e está aqui representada por uma atriz vestida à época com um vestido preto, um avental branco e uma touca”, revela.
Ao todo são 14 as personagens representadas no Palácio da Vila de Sintra, que agora traz de volta à vida figuras da história, como as rainhas, um rei, um padre e até mesmo um porteiro ou um cozinheiro. Neste sentido, com tantas pessoas, António Nunes Pereira garante que o trabalho de investigação que durou cinco anos foi complicado porque foram necessários dois projetos de “levantamento de fontes da Idade Média e do Renascimento”, na Torre do Tombo, em Lisboa, e outros dois por causa "da documentação sem fim, imensos documentos que têm em primeiro lugar que ser identificados e digitalizados, e copiados”.
Da sala dos aposentos, onde está o ecrã que identifica a empregada doméstica do palácio, seguimos para uma outra: o espaço é grande e os detalhes que mais saltam à vista são os tablets que estão cobertos com talha dourada, para que se pareçam com os quadros da época. Estas “pinturas” mostram seis rainhas, entre elas D. Maria I, a primeira rainha de Portugal.
Em declarações à TSF, António Nunes Pereira refere que esta rainha está com um vestido azul do século XVIII, “com mangas em renda extremamente sofisticadas”, um manto de arminho, ou seja, um dos símbolos “do patriarcado real em termos de vestuário”, e também uma faixa de uma “ordem honorífica”, tal como esta se apresenta no próprio retrato.
Nesta viagem ao passado, a história é feita de pessoas. “Às vezes ponho-me a pensar quantas pessoas viveram aqui, entre reis, rainhas, príncipes, princesas, embaixadores, artistas, serviçais, pessoas escravizadas (...) Se nós imaginarmos a quantidade de pessoas que aqui passaram, as 14 personagens que nós temos é uma gotinha de água no oceano, mas permitem-nos ter uma ideia social e do género de pessoas que aqui passaram", admite ainda.
O projeto do Palácio Nacional de Sintra foi apresentado esta tarde. Teve fundos do Plano de Recuperação e Resiliência, além do apoio de diversas organizações ligadas à História e aos museus.
