Um livro que conta as histórias de três homens, que viram as suas vidas interrompidas pelo regime político. Porque o que marcou gerações não pode cair no esquecimento, Idalécio Soares quis escrevê-lo.
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"Há a ideia generalizada de que o Estado Novo de Salazar e Caetano foi uma ditadura benévola, um Estado paternalista. As coisas não foram assim", adianta Idalécio Soares, o autor de "Vítimas da Ditadura no Algarve, três casos, três histórias subtraídas ao esquecimento".
O investigador decidiu escrever este livro para deixar claro às novas gerações que a ditadura e a Polícia Política existiram em Portugal e marcaram muitas vidas.
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Entre as muitas pessoas afetadas pela regime, estão os três casos de que fala o autor, pessoas com origens sociais e percursos de vida muito diferentes: um advogado, um jovem desempregado e um contrabandista marítimo, todos oriundos de Olhão.
O advogado, Manuel Paula Ventura, pessoa conceituada na terra, viu-se envolvido num caso de fabrico de bombas apenas porque transportou vítimas no seu carro. Teve que fugir para Espanha e lá morreu exilado.
O livro descreve também o que aconteceu a um jovem de 20 anos, José Feliciano Galvão, da freguesia rural de Moncarapacho, que nos bailes e nas conversas de café se insurgia contra o regime. "Um belo dia viu a GNR entrar em casa de madrugada, levá-lo para a prisão e, mais tarde, foi dado como desaparecido. A família nunca mais o conseguiu contactar", conta o historiador. Uma história que se desenrola no ano em que começa a guerra civil de Espanha e em que o próprio regime político endurece em Portugal.
Essa era a realidade um pouco por todo o país, embora no Algarve fosse mais acentuada. "A situção social era muito explosiva, havia muito desemprego e a repressão aumentou".
O investigador Idalécio Soares apresenta ainda o percurso de outro homem: um homem do mar, conhecido por José da Mónica que transportava fugitivos políticos. Foi preso três vezes. A terceira detenção foi-lhe fatal.
A PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) considerou que José da Mónica fazia parte da rede Shell, uma organização montada pelos serviços secretos ingleses em Portugal, durante a 2ª Guerra Mundial, para oferecer resistência a uma possível invasão alemã.
É improvável que o homem pertencesse a essa rede mas, mesmo assim, não escapou às garras da Polícia Política. "Foi torturado e acabou por morrer num hospital".
Com este registo, editado pela Sul Sol e Sal, Idalécio Soares pretende que as gerações mais novas e os seus antigos alunos, a quem dedica o livro, percebam o que foi a ditadura e as pessoas que ela afetou.