Bienal Internacional de Marionetas de Évora cancelada por falta de financiamento
A Bienal Internacional de Marionetas de Évora (BIME), que deveria acontecer esta semana, não vai ser realizada por falta de financiamento, anunciou a organização.
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"Não temos BIME porque não há financiamento, nem nacional, nem europeu. Há dinheiro aí por todo o lado, mas aqui o dinheiro não chegou", lamentou à agência Lusa José Russo, diretor do Centro Dramático de Évora (Cendrev), entidade promotora da iniciativa.
A BIME, festival de marionetas iniciado em 1987, deveria ter decorrido em 2015 e foi adiada para 2016, mas, nesse ano, voltou a não ser organizada, tendo os atrasos sido causados pela "ausência de fundos comunitários".
Quanto à edição 2017 do certame, que "devia estar a arrancar", o Cendrev anunciou hoje, em comunicado, que também não vai ter lugar, "porque quem organiza e decide os financiamentos europeus e nacionais para as atividades culturais não quer que este evento se realize".
Em declarações à Lusa, José Russo escusou-se a indicar quais as entidades responsáveis por essa falta de financiamento e disse que o seu papel "não é apontar dedos a ninguém", mas considerou "estranho" que, "de repente", a companhia seja confrontada com "situações em que dizem que a bienal não pode ser candidatada a fundos europeus".
"É uma coisa absurda e não posso deixar de manifestar a minha indignação. Há festivais a acabar, companhias a fechar portas e nós, qualquer dia, também fechamos a porta, é impossível aguentar isto", desabafou, aludindo à falta de financiamento.
Segundo José Russo, a organização da BIME dispõe "de apoios logísticos da câmara e até de apoios de alguns marionetistas", que se disponibilizaram para participar a "valores reduzidos".
"Mas temos que pagar viagens de avião, hotéis e alguns 'cachets' e, portanto, é preciso algum dinheiro. Não é muito, precisamos à volta de 150 ou 170 mil euros para fazer a bienal", mas tal não é possível "sem financiamento", frisou.
No comunicado, o Cendrev lembrou que o processo para viabilizar o calendário regular da BIME foi "iniciado em outubro de 2014" e envolveu "vários contactos, protocolos assinados e candidaturas organizadas e apresentadas".
Em 2015, o Cendrev, a Câmara de Évora, a Direção Regional de Cultura do Alentejo e a Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo até assinaram um protocolo de colaboração para viabilizar a bienal e, no ano passado, o município candidatou a fundos comunitários o programa cultural "Confluências", que incluía vários projetos, um deles a BIME.
A candidatura foi recusada pela autoridade de gestão do programa comunitário regional Alentejo 2020 e, em abril deste ano, a câmara anunciou que tinha contestado este "chumbo" junto do Governo, aguardando ainda a resposta.
Na altura, contactada pela Lusa, a autoridade de gestão do Alentejo 2020 limitou-se a explicar que, tal como acontece com todas as candidaturas, foram aplicados os regulamentos dos fundos comunitários, os quais ditaram que não tivesse sido admitida.
"Não sei de quem é a culpa. Minha não é, porque queríamos fazer a bienal, não por teimosia, mas porque este é um evento que mexe com a região e com a cidade e que tem um prestígio muito grande em termos internacionais", realçou hoje José Russo, que lamentou ainda: "A conclusão a que chegamos é a de que não há vontade", por parte de "alguém", para que "a BIME aconteça".
Em vez da BIME, o Cendrev está a realizar, esta semana, até domingo, no Teatro Garcia de Resende, espetáculos com os Bonecos de Santo Aleixo, marionetas tradicionais do Alentejo e que "ganham vida" através dos atores da companhia.