
Brigada Vitor Jara
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Na recta final da digressão comemorativa dos 40 anos, o colectivo de Coimbra vai estar este sábado na Casa da Música, no Porto, às 21h30.
Nasceram no Verão quente de 1975, nas Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA. Foi entre Malpica e a Lousã, que começaram a descobrir a Música Tradicional, um gosto que se foi aprofundando e desenvolvendo no contacto com elementos do GEFAC. Eram todos jovens estudantes, empenhados na tarefa às vezes não fácil - mas gratificante - de levar melhorias às populações esquecidas pela ditadura anterior a 25 de Abril de 74, ao mesmo tempo que faziam passar a mensagem de um Portugal que se queria diferente. Em contacto com a tradição oral das cantigas que marcavam o dia-a-dia do mundo rural, decidiram juntar esforços, vozes e instrumentos e formar um grupo. E o nome, qual seria? Nada melhor do que o do cantor chileno Victor Jara, torturado e assassinado pelos militares da ditadura de Pinochet a 11 de Setembro de 1973 num estádio de Santiago, tendo o corpo sido posteriormente abandonado num bairro de lata da capital chilena.
Nascia assim um dos mais importantes e duradouros grupos de Música Tradicional Portuguesa, que teve nas recolhas de Michel Giacometti e nos seus Arquivos Sonoros Portugueses a fonte onde a Brigada Victor Jara bebeu muitos dos ensinamentos que foi depois espalhando ao longo de quarenta anos. Com o primeiro disco, "Eito Fora" (editado em 1977), começava o longo caminho que os trouxe até aos dias de hoje, tendo ficado pelo meio mais nove álbuns: "Tamborileiro" (1979), "Quem Sai aos Seus" (1981); "Marcha dos Foliões" (1982), "Contraluz" (1984), "Monte formoso" (1989), "Danças e Folias" (1995), "Por Sendas, Montes e Vales" (CD duplo - 2000), "Ceia Louca" (2006) e "Ó Brigada" (2015), este último, a ser "a cereja no topo do bolo" que é a excelente caixa editada em Fevereiro deste ano, que contem toda a discografia do grupo e que assinalou o 40º aniversário.
Ainda a nível discográfico, de referir as cinco colectâneas editadas ao longo destes anos: "10 Anos" (edição em vinil - 1985), "15 Anos" (edição em vinil - 1992), "15 Anos" (1993), "Brigada Victor Jara" (triplo CD - 2009) e "Essencial" (2014) e, ainda, a participação em dezanove edições e/ou projectos, em palco e em disco.
Mas para além de ser uma das referências maiores da Música Tradicional Portuguesa de raíz e da divulgação do nosso Cancioneiro Popular, a Brigada Victor Jara tem sido também um autêntico viveiro de músicos e vozes, tendo passado pelo grupo, ao longo destes quarenta anos, trinta e um músicos e cantoras(es). Actualmente constituída por Arnaldo Carvalho (percussão), Aurélio Malva (viola, viola braguesa, bandolim, gaita-de-foles e voz solo), Catarina Moura (voz solo), José Tovim (viola baixo), Joaquim Teles (Quiné) na bateria, Luis Garção Nunes (viola, viola beiroa e cavaquinho), Manuel Rocha (violino e bandolim), Miguel Moita (piano e sintetizador) e Rui Curto (acordeão e concertina), vai ser esta a Brigada que sobe a palco nestes derradeiros concertos com que se assinalam 40 anos de dádiva e partilha de músicas e afectos, e que vão contar ainda com a participação das Segue-me à Capela, grupo vocal feminino de Coimbra, para a interpretação de vinte seis das centenas de cantigas de raíz popular que a Brigada Victor Jara tem partilhado connosco ao longo de quatro décadas. Espectáculos construídos numa lógica de universos e temáticas (como os universos infantil, natalício, das mulheres, dos adufes e das caixas e bombos), os concertos de Porto, Lisboa e Coimbra passam também por uma homenagem aos Açores e vão contar ainda com projecções vídeo (assentes na filmografia de Michel Giacometti) que vão servir de fio condutor, num trabalho assinado por Henrique Patrício, sendo o desenho de luzes da autoria de Pedro Leston Jr.
Tudo se conjuga, portanto, para noites de celebração da Música Tradicional Portuguesa em ano de aniversário da Brigada Victor Jara. Por tudo isto, só resta acrescentar: Obrigado... Ó Brigada!