"Cada vez com mais força." Cante saiu do Alentejo há dez anos para unir culturas e gentes
No décimo aniversário desta distinção, a TSF foi conhecer o AlCante, o grupo coral de Cante Alentejano mais antigo de Lisboa
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Faz dez anos, esta quarta-feira, que o Cante Alentejano foi considerado Património Cultural Imaterial da UNESCO. A distinção lançou o mote para o nascimento de vários novos grupos que promovem esta arte, no Alentejo, mas não só. Nem um ano depois, em abril de 2015, Lisboa foi a cidade-berço do Alcante, o grupo de Cante Alentejano mais antigo da capital.
Em atividade há nove anos, o Alcante começou por ser oficialmente "Grupo Coral e Etnográfico da Junta de Freguesia de Alcântara", numa simbiose plena com a autarquia. Três anos volvidos, a associação torna-se independente, mas mantém o espaço no mesmo edifício, beijado pelo rio Tejo e à sombra da velhinha Ponte 25 de Abril. José Fernandes é o responsável pela criação do grupo.
Alentejano de gema, começou por criar e gerir um outro grupo de Cante Alentejano, em Mértola, mas José conta à TSF que foi um acaso que o trouxe a Lisboa e não tem dúvidas de que a distinção da UNESCO acabou por ter um papel fundamental na extensão do Cante à diáspora alentejana.
"Os alentejanos [em Lisboa] já queriam, mas a notícia da classificação como património da humanidade teve muita importância para despertar a vontade de fazer um grupo coral", começa por explicar o sócio-fundador.
Fala num grupo "muito heterogéneo", com homens e mulheres, jovens e idosos, alentejanos e não só. "A diáspora do Cante tem pessoas que, por vezes, até alteram um pouco a natureza da música, porque cantam da forma que sabem e a forma que sabem é...um bocadinho à lisboeta!", o que, confessa, acaba por ser um desafio para os ensaiadores.
Ainda assim, José garante estar de pazes feitas com esta questão: "É uma contingência que temos e aceitamos, porque a riqueza do Cante também é isso: a entrosão de culturas e de gentes", que acaba por ser, aliás, um reflexo do próprio Alentejo.
"As pessoas que foram para lá não eram alentejanas, porque a região não tinha gente e foi sendo povoada e toda esta sequência de acontecimentos históricos reflete-se na história do Cante", elabora.
E, olhando para esta primeira década em perspetiva, José Fernandes não tem dúvidas: o Cante Alentejano tem futuro. "Apesar de haver quem critique algumas coisas novas, o cante não tem de evoluir, mas pode haver alguma imaginação para transformá-lo em algo diferente. Isto não deve ser regra, mas também não é de rejeitar", sublinha, deixando a garantia de que os grupos mostram "cada vez mais força".
