Calor? Horas infindáveis de espera? Nada detém os "super-heróis" da primeira fila
Há quem os chame de "malucos", há quem diga que são "fãs dedicados". Assim que as portas se abrem, correm para apanhar os melhores lugares frente ao palco. São os festivaleiros da primeira fila.
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Quando Diogo e Inês saíram da cidade de Coimbra, para vir para Lisboa, eram apenas 8h00 da manhã.
"Apanhámos o autocarro e chegámos cá por volta das 10h30". Vieram direitinhos para o Rock in Rio.
O casal de namorados de 19 anos esperou na fila à entrada até à abertura do recinto, às 12h00. O motivo? O desejo de ficar na primeira fila para ver os cabeças de cartaz do primeiro dia desta 8.ª edição do Rock in Rio: os Muse.
"Tivemos que criar uma tática: ele ficou com as malas e eu corri, assim que as portas abriram", conta Inês, que veste uma camisola da banda britânica. É já a quarta vez que vai ver os Muse ao vivo. Já o namorado, Diogo, assistie a um concerto da banda pela primeira vez.
"As expectativas são muitas. Espero que seja um grande concerto e, segundo o que ela me diz, vai ser. Espero divertir-me ao máximo", afirma.
A tática resultou: Inês e Diogo estão na primeira fila do público que se concentra junto ao Palco Mundo do Rock in Rio.
Não apreciam as restantes bandas que passam neste dia pelo palco, mas não se importam de "gramar" os outros concertos, só para estar mesmo à frente dos Muse.
"Nunca cansa, é sempre um concerto incrível, inesquecível, mesmo. Vale a pena", assegura Inês.
Tática semelhante adotaram Tânia, Inês, Beatriz e Daniela, um grupo de amigas que têm entre 18 e 19 anos, naturais de Lisboa.
"Chegámos às 10h00 da manhã", exclama Tânia. Também correram para o palco, logo ao abrir das portas, para poderem ver de perto os Muse, mas, principalmente, os Bastille, que atuam mesmo antes. É a terceira vez que os veem ao vivo. "Esperamos que seja tão bom ou melhor como os outros que já vimos".
Foi noutro concerto da banda, há um ano, no Festival Marés Vivas, que travaram amizade com Farah, vinda da Indonésia, e Tanya, vinda da Rússia.
É que é "muito fácil" fazer amigos do outro lado do mundo num festival. "Na fila de espera, fazemos amizades. Quando tens de estar 10 horas à espera de um concerto, tornas-te melhor amiga das pessoas à tua volta", ri Farah, de 23 anos.
Assim que souberam que as bandas regressavam a Portugal este ano, esperaram logo poder reencontrar as amigas que fizeram no ano anterior. "É incrível, as pessoas aqui são tão simpáticas", comenta Tanya. "Eu adoro mesmo Portugal!". Farah sente o mesmo: "Apaixonei-me pelo país e, por isso, queria muito voltar". E a música é sempre o melhor pretexto.
Quem também veio de longe foi Gabriela, uma brasileira a viver na Irlanda, que viajou para Portugal de propósito para o Rock in Rio.
"Eu nunca vi a edição do Brasil do Rock in Rio e várias bandas que eu gosto vão tocar, por isso decidi vir", justifica. Mas esta é mesmo uma 'visita de médico' para a jovem de 28 anos. "Cheguei hoje e vou embora amanhã. Vou ter que voltar para ir trabalhar", lamenta.
A sua maior motivação são também os britânicos Bastille. E apesar de não ter corrido para a primeira fila assim que as portas abriram, Gabriela também encontrou maneira de cá chegar. "A estratégia é vir pelas laterais [do palco]", abrindo caminho até aos lugares centrais, revela.
Mãe só há uma (e primeira fila também)
E quem pensa que são apenas jovens inconsequentes a aguentar um dia inteiro com temperaturas de 30ºC que lhes "torram" as cabeças para não deixar escapar um lugar na primeira fila, desengane-se!
É num dos locais mais próximos do palco que encontramos Elisabete, de 47 anos, acompanhado pelos filhos Gonçalo, 14 anos, e Bruno, 18 anos. Todos os três equipados com camisolas dos Muse.
Bruno é o "maior fã da família". "É ele que nos põe sempre a par de tudo o que sai sobre os Muse", confessa a mãe Elisabete. Mas a paixão pela banda é algo que os une. "Temos gostos parecidos", garante.
E como dois é bom e três não é demais, mas ainda melhor, a família aproveita que está em vantagem numérica para guardar o lugar uns dos outros junto ao palco, sempre que alguém precisa de se ausentar para ir buscar comida.
O mesmo fazem Paula, de 14 anos, e a mãe Maria José, de 47. Neste caso, foi mesmo a mãe, super fã dos Muse, que puxou a filha para o concerto - que, claro, só pode ser visto na primeira fila. Não se importam de perder o resto do festival porque este espetáculo é tudo o que interessa. "Vai ser fantástico". A julgar pela quantidade de concertos da banda a que Maria José já foi, achamos que podemos confiar na palavra dada. Agora é ver se Paula, uma estreante nestas andanças, concorda com a mãe e a a acompanha no headbanging.