Carlos Paredes com “nova roupagem”: banda sinfónica e percussionista fazem homenagem inédita ao guitarrista
O percussionista Marco Fernandes juntou-se à Banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras e, juntos, gravaram um CD, que vão agora apresentar ao vivo, em Lisboa
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No centenário de Carlos Paredes, o percussionista Marco Fernandes e a Banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras trazem uma adaptação inédita das músicas do guitarrista português à Aula Magna, em Lisboa. A TSF foi assistir a um dos últimos ensaios deste projeto que, garantem os envolvidos, foi “extremamente ambicioso”.
São quase 21h30. Estamos no Quartel dos Bombeiros Voluntários, junto à Praça da Liberdade, em Torres Vedras. O ar enche-se de notas e acordes aparentemente aleatórios: "Ouvimos uma tuba a fazer escalas, as flautas a estudar pequenos trechos de obras que vão ensaiar hoje, os trompetes estão a fazer o aquecimento habitual."
É este o “processo normal de um ensaio”, garante Marco Fernandes, o percussionista de Arrentela, enquanto monta o xilofone, a marimba e o vibrafone, mesmo à frente, do lado esquerdo. Foi ele quem desafiou a banda para este projeto.
A ideia nasceu em fevereiro de 2024, com o objetivo de converter música portuguesa em música de banda. Lançou o desafio a Rui Silva, o maestro da Banda de Música, e assim nasceu o disco “Canções de Liberdade”, que junta adaptações de nomes como Zeca Afonso, Nuno Malo e Carlos Paredes. Agora, no centenário do guitarrista português, a dupla vai apresentar ao vivo, pela primeira vez, as obras em que estiveram a trabalhar nos últimos meses.
“Uma coisa é fazer a gravação, outra é [atuar] em palco. São dois trabalhos completamente distintos”, assegura Rui Silva. “Uma banda sinfónica oferece soluções quase infindáveis ao compositor”, mas adaptar Carlos Paredes para banda, "provavelmente, é mesmo inédito”, admite o maestro, que não tem mesmo memória de algo assim.
O ensaio começa com uma introdução, criada de raiz pelo grupo, mas rapidamente começam a ouvir-se as primeiras notas de "Verdes Anos". Apesar de Carlos Paredes ter pensado na música para a guitarra portuguesa, Rui Silva assegura que “a música não deixa de ser universal, podendo ser reinventada”. Assim, o objetivo do maestro foi claro: “Tentando ser fiel à ideia original do compositor, tentei criar uma ‘nova roupagem’”, um Carlos Paredes em traje de banda filarmónica, com um toque pessoal de Marco Fernandes. “No nosso imaginário, veríamos Carlos Paredes a tocar guitarra portuguesa acompanhado da sua banda e, neste caso, o meu grande foco, apesar de tocar alguns momentos de percussão mais rítmica, é tocar a percussão mais melódica”.
Marco Fernandes reconhece que este projeto foi “extremamente ambicioso”, até porque Carlos Paredes era, ele próprio, um compositor. “Escrevia para ele próprio e para os seus músicos tocarem. Essa é a grande diferença e é daí que se atribui um lado muito pessoal e de genialidade a cada música”, elabora. Já Rui Silva, confessa-se honrado por ter a oportunidade de fazer parte desta ideia. “Sinto-me a participar numa coisa bastante grande que transcende o que fazemos todos os dias. Estamos a celebrar 100 anos de uma pessoa que permanece [na memória coletiva] e que identifica o que é ser português”, argumenta.
E sobre a memória do guitarrista, Marco Fernandes não hesita em colocá-lo junto dos maiores de sempre. “Se celebramos Beethoven, Mozart…os grandes compositores, porque não celebramos Carlos Paredes? Estamos a falar de música de uma qualidade artística indescritível”, atira.
O concerto está marcado para este domingo, dia 16 de fevereiro, na Aula Magna, em Lisboa, e o maestro deixa já a garantia: “Acho que não estão preparados para o que vão ouvir."
