Como o árabe nos ensina tanto sobre nós. Em Silves, há um curso com quase duas décadas
No Centro de Estudos Luso-Árabes, os estudantes tentam aprender um alfabeto muito diferente e uma língua que se escreve da direita para a esquerda.
Corpo do artigo
Helena ensaia o que já aprendeu em árabe. Há alguns anos que estuda esta língua difícil. É uma das alunas do curso de árabe que é lecionado no Centro de Estudos Luso-Árabes, em Silves. Uma bonita casa cor de terra com traços islâmicos.
O grupo de colegas do curso de árabe conversa, ri, discute como se pronuncia cada palavra. Porque nesta língua a aprendizagem não é fácil. "O passo mais importante é perceber as letras e a única parecida é o L". Apesar da língua portuguesa ter 18 mil palavras de origem árabe, os alfabetos árabe e ocidental em nada se assemelham - até na forma de escrita, já que o árabe se escreve da direita para a esquerda.
Ana Maria Mira, presidente do Centro de Estudos Luso-Árabes de Silves, lembra que o curso começou há alguns anos. E todos os anos letivos há sempre quem queira experimentar. "A primeira pergunta que fazem é se é fácil aprender", conta, rindo.
Mas a sua experiência diz-lhe que é difícil aprender uma língua que tem inúmeras variáveis e dialetos - é diferente de Marrocos para o Egito, do Egito para a Tunísia, e assim por diante.
TSF\audio\2018\10\noticias\09\maria_augusta_casaca
O curso foi criado sobretudo para dar competências em árabe de modo a promover a investigação de tantos documentos que se encontram nos arquivos e bibliotecas, para que se possa descobrir a importância da cultura árabe nas origens de Portugal.
É precisamente para saber mais, para adquirir conhecimentos, que Maria Fernanda foi aprender árabe. "Adoro história e a luso-árabe fascina-me", particularmente a que diz respeito a Silves. Considera que esta língua, apesar de tão diferente, pode ser aprendida. "Temos é falta de estudo", admite.
O Centro de Estudos Luso-Árabes já teve os seus momentos complicados, mesmo numa terra pacata como Silves. Quando o Islão começou a ser conotado com terrorismo, houve manifestações à porta.
Ana Maria Mira lembra uma ameaça que recebeu na altura. "Chegaram a telefonar-me para casa a dizer: «Gostas muito de árabes? Então vou pôr-te uma bomba à porta»", recorda.
Apesar de tudo, o Centro promete continuar as suas atividades culturais e ser um local onde se fazem colóquios, conferências e encontros ligados à civilização árabe.