O concerto inaugural do projeto “100 Paredes” junta em palco música, teatro e dança. É um trabalho de dois amigos de Coimbra, que começou com a ideia de gravar um disco
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É o maestro Artur Pinho Maria que dá orientações em mais um dos ensaios de preparação do concerto inaugural do projeto “100 Paredes”. Desta feita, com a secção de sopro.
Francisco Longuinho é um dos membros da orquestra comunitária que sobe ao palco do Convento São Francisco, em Coimbra, sábado, 15 de fevereiro. Toca na Filarmónica de Ceira. “Acho que é mais o ritmo e as sonoridades e interiorizar estes sons das cordas que é o mais importante para depois fazer o acompanhamento com o saxofone tenor.”
A acompanhar a guitarra portuguesa de Bruno Costa, diretor musical do projeto “100 Paredes”, vai estar, além da orquestra comunitária, ainda um coro comunitário. O espetáculo junta 300 pessoas.
A integração de coletivos locais vai estender-se aos 15 municípios onde vão apresentar o projeto “100 Paredes”. Segundo André Varandas, diretor artístico, a iniciativa tem como objetivo "respeitar" aquele que era o compromisso de Carlos Paredes.
“Ele sempre foi muito democrático com o seu caminho artístico. Fez várias parcerias, trabalhou com várias disciplinas artísticas, trabalhou com teatro, com dança, com cinema, com outros artistas e músicos também”, justifica.
Para Bruno Costa, diretor musical e guitarrista, é um desafio estar acompanhado por um grupo tão grande. “As músicas não têm uma marcação rítmica muito concreta, não há uma submissão ao tempo. Isso acarreta uma dificuldade para os músicos que não se conhecem ou que não conhecem a sua forma de tocar. É bastante exigente em termos de trabalho, é um desafio muito grande”, assinala.
O espetáculo tem ainda uma vertente documental, contemplando o acervo documental sobre Carlos Paredes, mas também testemunhos de quem privou com o músico de Coimbra. Sem detalhar, André Varandas afirma que “existem coisas muito bonitas”. Um dos exemplos que aponta é a relação de Paredes com a religião: “Ele não era uma pessoa muito crente, mas às vezes mandava outras pessoas rezarem por ele.”
O projeto “100 Paredes” nasceu da vontade de gravar “alguma coisa” com a guitarra do Carlos Paredes, que foi cedida ao município de Coimbra. O resultado é um LP que vai ser lançado em finais de março. “Tivemos a sorte de poder gravar no estúdio onde ele gravou”, atira Bruno Costa.
As ideias geram ideias e o projeto acabou por se transformar. Além do concerto-documentário, integra ainda uma exposição, palestras e workshop de guitarra de portuguesa.
“Apesar da guitarra portuguesa ser um elemento identitário do nosso país, está pouco democratizada, não há um acesso tão grande como deveria ser no território”, justifica André Varandas.
Os workshops têm como público-alvo a comunidade escolar. André Varandas assinala que o contacto com a história, a origem e com o próprio instrumento cria afetividade. “É isso que nós queremos criar na população escolar e nos mais novos, que é esta relação com o instrumento e com a vida e obra do Carlos Paredes.”
Outra iniciativa no âmbito deste projeto é um jantar-concerto solidário, a 30 de abril, em Coimbra. As receitas revertem para a Sociedade Portuguesa de Estudos de Doenças Neuromusculares. “O Carlos Paredes morreu de uma doença rara, degenerativa, neurológica, e a forma de nós lembrarmos que esses problemas existem é poder fazer uma ação solidária”, conclui André varandas.
Ao longo do ano, o programa do “100 Paredes” terá cerca de 80 iniciativas em território nacional e em nove países da Europa, Ásia, América e África.
O projeto integra igualmente a programação nacional “Variações para Carlos Paredes”, criada para assinalar o nascimento do músico, em Coimbra, a 16 de fevereiro de 1925.
