O livro Morro da Pena Ventosa, de Rui Couceiro (editor, mas também autor do romance de estreia Baiôa Sem Data Para Morrer) foi dos mais badalados no ano passado, no meio literário português. Com eles, livro e autor, percorremos a Sé do Porto.
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Antes do passeio Sé adentro, sentámo-nos num café da Baixa que já foi emblemático, esteve fechado muito tempo, depois reabriu, agora está muito direccionado para turistas e onde um cimbalino, um simples cafezinho, custa agora... quatro euros.
Uma conversa entre um jornalista e um ex-jornalista sobre turismo de massas, abandono, recuperação, uma conversa sobre a cidade, sobre o Porto.
Como é que o Rui Couceiro se apresenta aos ouvintes da TSF?
“Eu sou editor, mas sou também autor. Gosto muito de viver neste limbo entre o homem que trabalha nos livros dos outros, mas que também tem tempo para trabalhar nos seus próprios livros e sou portuense”.
Acredita que uma citação de Agustina Bessa-Luís, que por acaso nem é a que está no início do livro, é provavelmente aquela que, no seu entender, espelha melhor aquilo que o Porto é: “muralha com a cintura rodeada de nevoeiro, generosa e tímida, com a sua coroa provinciana e a luva suja na mão descalça”. E logo acrescenta: “também há uma muito boa do Jaime Cortesão quando ele diz que o Porto é granítico, de face e de carácter. Há muita gente que escreveu coisas extraordinárias sobre o Porto; até o Torga escreveu sobre o Porto”. Mas pensa que, “de todas as coisas que se escreveram sobre o carácter da cidade do Porto, a que eu gosto mais foi um lisboeta que escreveu, o Nuno Júdice. Ele diz: Shakespeare poderia ter vivido aqui e eu acredito muito nisso, porque eu acho que o Porto é uma cidade profundamente literária. Ele diz que o Shakespeare poderia ter dançado na noite de São João e eu acho que o Porto é muito isso. É uma cidade profundamente romanesca e, portanto, tinha dentro de mim há muito tempo uma vontade enorme de fazer uma ficção nesta cidade, utilizando muita da matéria bruta que a que a cidade oferece”.
Pergunta o repórter se o autor gostaria de um dia, para outras gerações mais novas, ser lembrado como um tipo que também escreveu coisas extraordinárias sobre o Porto:
“Eu gostava muito, eu gostava muito. Eu quis fazer um livro sobre o Porto e tenho sempre a vontade, quando escrevo, de que aquilo que faço e mostre o tempo em que eu vivo; e portanto, se este livro puder daqui a alguns anos mostrar o Porto de hoje, eu ficarei muito contente”.