Três anos depois de ter vencido o primeiro prémio do World Press Photo, na categoria Vida Quotidiana, Daniel deixou de colaborar com a imprensa portuguesa: "nas condições que oferecem é impossível".
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Daniel Rodrigues está em Portugal, mas por pouco tempo. O fotojornalista acabou de regressar de Moçambique, onde esteve durante dois meses a trabalhar em projetos que, para já, não pode divulgar, "mas que em princípio devem sair no início de setembro". E prepara-se para partir para França, onde vai participar no "Visa pour L'image", o festival internacional de fotojornalismo, que decorre em Perpignan.
Vai levar ao festival o trabalho sobre o comboio de ferro da Mauritânia : "foi uma viagem alucinante, uma aventura incrível", exclama. "Foi um projeto pessoal que depois acabou por ser publicado no jornal The Washington Post e na Aljazeera e que vai sair agora no Courrier Internacional", revela o fotojornalista que em 2013 venceu o primeiro prémio do World Press Photo, na categoria Vida Quotidiana.
A distinção foi um trampolim e desde então o currículo tem somado outros prémios e uma colaboração regular com vários órgãos de comunicação social internacionais, a começar pelo The New York Times. "Nos últimos dois anos tem sido o órgão com o qual mais tenho colaborado", afirma, sem esconder a satisfação: "é um orgulho enorme trabalhar para um dos maiores jornais do mundo".
Do outro lado do orgulho está a tristeza por ter deixado de colaborar com a imprensa portuguesa. "O respeito é completamente diferente lá fora, aqui em Portugal, infelizmente, às vezes não existe", lamenta o fotojornalista que nasceu em França e vive no Porto. "É duro dizer isto do meu país, mas é a realidade. Eu até gostava de colaborar com jornais e revistas portugueses, mas nas condições que oferecem é impossível". E concretiza a ideia: "eu gasto num trabalho 1.000 ou 2.000 euros e depois chegam a oferecer-me 50, 70 ou, no máximo, 100 euros para poder publicar. Isto para mim é falta de respeito".
Aos 29 anos, Daniel Rodrigues olha com tristeza para o panorama nacional que tem deixado sem trabalho vários amigos fotojornalistas: "às vezes [os órgãos de comunicação social] preferem ter um jornalista a escrever e a tirar fotografias, em vez de ter um fotojornalista. Ou mesmo qualquer pessoa a tirar fotos com o telemóvel".