
Rute Fonseca/TSF
Uma viagem por mais de sete décadas de criação artística, do que é principal representante vivo do surrealismo em Portugal. "Cruzeiro Seixas - ao longo do longo caminho".
Muitas das obras vão ser expostas pela primeira vez. Entre elas, um desenho de Cruzeiro Seixas feito quando tinha apenas seis anos, com honras de abertura na exposição na Fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão.
"Mostra um pouco de toda a obra do mestre Cruzeiros Seixas. Temos obras dele e obras que colecionou ao longo da vida. Também está presente uma parte de etnografia com objetos que foi recolhendo em África. São objetos do quotidiano", explica Marlene Oliveira, uma das comissárias da exposição.
Na primeira sala, entre várias obras, vemos na parede um cartaz original, com o título: "O Cadáver esquisito & a pintura coletiva, pela primeira vez em português".
Perfecto Cuadrado, comissário da exposição e coordenador do Centro Português de Surrealismo, explica que "este cartaz representa um jogo literário muito importante no surrealismo, como instrumento de criatividade coletiva. Uma primeira pessoa escrevia uma frase e a outra, sem conhecer, continuava. A primeira frase foi que 'O cadáver esquisito beberá o vinho novo'".
Há uma outra sala dedicada aos cadernos, que fazem parte do espólio desta Fundação de Famalicão. Marlene Oliveira diz que "são objetos únicos, cadernos que têm testemunhos, anotações, pensamentos. Era uma forma de ele estar com ele próprio, de colmatar a solidão. Temos fotografias, textos dele, muitas referências a Mário Cesariny, vemos as ligações que tinha a outros artistas".
Perfecto Cuadrado afirma que "Cruzeiro Seixas é uma das figuras fundamentais do surrealismo português, como desenhador, pintor, colecionador, autor de objetos encontrados e transformados no sentido de reabilitar a realidade. Na pintura figurativa, Cruzeiro Seixas recorria muito a elementos como o cavalo, cruzeiros no ar, corpos atravessados por setas. É uma representação de grande tensão romântica entre realidade e desejo. Desejo, sonho e realidade são palavras para definir o mundo do surrealismo".
Cruzeiro Seixas tem 98 anos e continua a "fazer colagens, com fragmentos de cartolina. Tem problemas de visão e retomou o que fazia nos anos 60, com trabalhos de colagens".
A curadora Marlene Oliveira conta que "esta exposição foi desenhada e pensada de acordo com a vontade do mestre. É uma homenagem, um testemunho e um agradecimento da fundação pela magnífica coleção que temos cá".
A exposição "Cruzeiro Seixas - ao longo do longo caminho" é inaugurada esta sexta-feira, às 19h00, na Fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão, com a presença do mestre do surrealismo português. Os trabalhos podem ser vistos 29 de setembro.