Quinze músicos tocaram na cratera de um vulcão em atividade, desde o pôr-do-sol ao nascer, na Grécia.
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A atmosfera foi cósmica na ilha grega de Nisyros, na noite de 18 para 19 de agosto. Quinze músicos escolheram a remota zona vulcânica, repleta de crateras fumegantes, para uma atuação de improviso que durou dez horas e meia.
Os artistas, dos mais diversos backgrounds musicais (desde a música clássica à eletrónica, passando pelo jazz), juntaram-se em círculo, sob a lua cheia. E tocaram. Na cratera de um dos maiores vulcões ativos do planeta.
A cratera Stefanos só costuma ser visitada por cientistas e pelos turistas mais aventureiros, mas desta fez serviu de palco para a arte.
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O projeto chama-se "634 minutos dentro de um vulcão" e foi organizado pelo six d.o.g.s, um espaço artístico ateniense, e pela fundação do Centro Cultural Onassis.
Os músicos convidados conheceram-se pela primeira vez à chegada para o sound check e a única condição que lhe foi imposta foi que se inspirassem pelo ambiente em volta.
Começaram a tocar às 19h58 de quinta-feira e só terminaram às 6h32 de sexta, ao nascer do sol.
Ao jornal The New York Times, Jannis Anastasakis, uma das guitarristas que participou no evento, disse que teve "a sensação de que estava a tocar na lua". Sébastien Marteau, flautista, ironizou: "Eu não sou muito de coisas cósmicas, mas aqui não tive hipótese".
A performance, de entrada livre, foi acompanhada por cerca de 2 mil pessoas, entre habitantes locais, turistas, e profissionais das artes e dos media.
O espetáculo foi unicamente iluminado pela luz da Lua, pelo que só pôde ser fotografado no início e no fim, quando o sol marcou presença.
"Queria que fosse uma experiência tão crua e primitiva que não pudesse ser documentada", revelou o diretor artístico do evento, Konstantinos Dagritzikos, ao The New York Times.
Como se planeia um concerto num vulcão?
Para atingir o resultado cósmico pretendido, a organização do evento teve de passar por meses de preparação.
Konstantinos Dagritzikos foi atraído pela hostilidade de Nisyros - uma ilha pequena, de alta movimentação tetónica, e à qual demora 14 horas a chegar de ferryboat. E foi essa mesma hostilidade que trouxe uma série de preocupações logísticas e de segurança, que exigiram longas reuniões com cientistas especializados em vulcões.
Para o dia da performance, as partes mais ativas da ilha foram isoladas e foram criados trilhos de segurança. Foi ainda necessário o estabelecimento de postos de primeiros socorros e ficou acordado que os músicos fariam turnos, trocando de posição de hora em hora, para não inalar demasiado gás sulfúrico, libertado pelo vulcão.
No final, diz Dagritzikos, tudo valeu a pena: "É uma experiência completamente única, o mais próximo que consegues de estar no centro da Terra".
Por enquanto, o áudio da performance não foi oficialmente divulgado pela organização, mas pode ser ouvido um excerto lançado na página do The New York Times.