O navio hospital Gil Eanes, acostado no porto de Viana do Castelo, serve de cenário ao espetáculo teatral "Anjo Branco", pela mão do Teatro do Noroeste. A antestreia é quarta-feira.
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Tendo como temática a pesca do bacalhau e a obra de Bernardo Santareno, a peça é uma homenagem ao navio conhecido entre os pescadores da frota bacalhoeira como o "Anjo Branco".
"Para além de vir socorrer os doentes, o navio trazia cartas e encomendas e era uma espécie de "anjo branco" para os pescadores. Ao longo da criação do espetáculo este anjo branco foi ganhando outras asas, outro valor simbólico. Hoje, para mim, representa a liberdade, a fraternidade e os velhos valores", conta o encenador Graeme Pulleyn.
O espetáculo "Anjo Branco" desenvolve-se ao longo de cinco cenas, em diferentes espaços do navio museu, desde a sala de jantar dos oficiais, passando pela cozinha, pela capela, por uma enfermaria e pela casa das máquinas. "Começa no exterior do navio, depois o público é convidado a entrar, como se fossem uma espécie de visitantes que vêm ver os doentes do navio. Termina com uma grande declaração de amor no convés da proa do navio", revela Graeme Pulleyn.
O espetáculo cruza depoimentos e histórias do navio agora recuperadas e a obra de Bernardo Santareno. "Foi médico no Gil Eanes em 1958. Ele deixou escrito que foi neste navio que fez as anotações que lhe permitiram terminar o livro "Nos mares do fim do Mundo" e a peça "O Lugre". Estamos a bordo do navio onde provavelmente foi escrita uma das obras primas do teatro português do século XX e também quisemos dar nota disso no próprio espetáculo", sublinha Ricardo Simões, o diretor artístico do Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana.
"Anjo Branco" é uma criação comunitária que conta com participação de quase 50 atores amadores das oficinas de teatro regulares do projeto Comunidade do Teatro do Noroeste - Centro Dramático de Viana: ATIVAjúnior, ATIVAsénior e Enquanto Navegávamos, esta última composta por ex-trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Entre os participantes, Maria Alcina Cruz, de 85 anos, realça a satisfação por esta experiência teatral: "Sempre gostei do teatro. Quando tinha 16 anos entrei numa peça e saí-me bastante bem. Quando soube desta possibilidade disse logo que contassem comigo".
O Navio Gil Eanes foi construído em 1955 nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) para apoiar a frota bacalhoeira portuguesa na Terra Nova e Gronelândia e foi resgatado da sucata por iniciativa da Câmara de Viana do Castelo em 1998, passando a assumir as funções de museu desde essa altura.