Duas mestres da costura "trabalham todo o ano" para o Carnaval: loja em Loulé tem 400 disfarces à escolha
O espólio do município tem sido reunido ao longo dos anos. Cada aluguer custa dez euros
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A dificuldade é escolher apenas um fato dos que se encontram nos bengaleiros. São cerca de 400 os disfarces e podem encontrar-se figuras como super-heróis, estrelas do desporto ou da música, sem esquecer os trajes de sevilhanas, piratas ou os mais arrojados, os das bailarinas de samba. Na loja do Carnaval da Câmara Municipal de Loulé há toda uma panóplia de fatos, criados ao longo de décadas pelo atelier de costura da autarquia. E não falta quem se queira mascarar nestes dias de folia.
”Temos pessoas de todo o Algarve que são clientes”, conta Bruna Sousa, uma das funcionárias da câmara municipal. Alguns procuram a loja bem cedo, para escolherem o melhor fato. “Dizem: 'No ano passado levei o pirata, este ano quero o marinheiro.' E nós vamos adaptando a tudo o que temos”, adianta.
Todos os fatos são feitos apenas por duas costureiras. Solange Rosa é uma das mestres da costura que pega na agulha e no dedal. ”Trabalhamos todo o ano, porque não é só fazer novos fatos, é também fazer a sua manutenção, as coisas precisam de ser arranjadas”, explica.
Os fatos podem ser alugados por apenas dez euros, mas é preciso deixar uma caução de 20 euros, para acautelar possíveis “extravios”. Alguns dos trajes requerem muito trabalho e paciência. ”Este, por exemplo, tem muitas aplicações, muitos adereços”, aponta a costureira. É um fato vermelho de odalisca, com inúmeras contas e bordados.
Nesta edição, “O Carnaval não é uma Seca” é o tema, numa alusão à falta de água no Algarve e Solange teve de puxar pela imaginação para fazer fatos especiais: ”Fiz nuvens, gotas de água...”, enumera.
O Carnaval já faz parte do ADN de Loulé e Solange Rosa admite que também ela já gostou em tempos de se mascarar. ”Ah, eu gostava muito do Carnaval quando era nova”, confessa. Só lamenta que o desfile já tenha demasiadas influências brasileiras. “Antes eram as freguesias que faziam os carros onde iam as moças mais bonitas, mas vestidas de outra maneira...”
Embora já raramente se mascare, Solange continua a gostar de ver o desfile que percorre a Avenida José da Costa Mealha nos dias de Carnaval. Este ano serão 15 carros alegóricos, cerca de 600 figurantes, escolas de samba, grupos de animação, cabeçudos, gigantones. Como sempre, em Loulé não faltará também a sátira política. Nos carros alegóricos que vão desfilar já foi possível construir um que leva a caricatura de Donald Trump e outro é dedicado às eleições presidenciais. Ali seguem os bonecos caricaturados do Almirante Gouveia e Melo e de Marques Mendes na luta por Belém. Marcelo Rebelo de Sousa também volta a estar em foco no Carnaval de Loulé, mas não quer misturar-se com os seus sucessores e vai sozinho num carro.