"É isto que há n'"As Mãos da Avó." Novo livro de Inês Cardoso retrata fascínio da infância e "reflete sobre o tempo"
Em entrevista à TSF, a diretora-geral editorial da Notícias Ilimitada fala da história entre uma menina e a avó, de onde surgiu a inspiração para o escrever e do poder que as ilustrações tiveram neste novo livro
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Inês Cardoso lança esta quinta-feira o seu quarto livro infantil, “As Mãos da Avó”, com ilustrações de Susana Matos. Será apresentado às 21h00 na Livraria Lello, numa sessão moderada por Capicua. A entrada é livre, mas sujeita a inscrição, que pode ser feita nesta página.
À TSF, a jornalista fala sobre a inspiração para este livro, que veio da sua vivência pessoal e da necessidade de refletir sobre o tempo. Além d'"As Mãos da Avó", Inês Cardoso é autora de “Letras Caídas”, “De Londres ao Porto numa gaivota” e “Venci-te, Jeremias”, todos livros infantis.
De onde surgiu a inspiração para escrever este livro?
Esta história tem muito da minha infância e das minhas vivências de grande proximidade em família. Tenho uma família muito alargada, com tios, com primos, com as minhas avós, que eram pessoas de uma enorme sabedoria e com muita capacidade de transmitir as pequenas coisas para os netos, e, portanto, vem da minha experiência antes de mais, mas depois de uma necessidade de refletir sobre o tempo.
A minha grande questão com este livro tem a ver com o darmos tempo às coisas, o ritmo próprio da natureza, porque vivemos num momento muito acelerado em que falamos muitas questões ambientais, mas temos muitas vezes dificuldade em nós próprios pararmos e conseguimos perceber que tudo precisa do seu tempo e que só conseguiremos ter uma vivência mais próxima do equilíbrio, do ponto de vista ambiental, quando conseguirmos travar o nosso estilo de vida e perceber mais o ritmo das coisas. E essa é a minha grande motivação, é refletir sobre o tempo.
Como foi escrever este livro? Como as ilustrações da Susana [Matos] entraram em cena?
As ilustrações entraram em cena por decisão da editora, a Kalandraka, que é especializada neste segmento e que tem um trabalho muito cuidado, muito sensível e muito bonito, e, portanto, entenderam que, para o texto que eu tinha, era a ilustradora adequada. É uma ilustradora com muito detalhe que faz um trabalho muito minucioso e, de facto, a ilustração é muito rica, é muito cheia de detalhes e parece-lhe ser, sem dúvida, uma mais-valia, uma riqueza que está no livro ter tido a ilustração da Susana Matos.
[A ilustração] foi um processo que levou muitos meses e foi uma das partes mais cuidadas do livro, mas creio que, sem dúvida, é da ilustração que resulta a harmonia e o equilíbrio final que o livro tem.
Em que espaços ou momentos do dia costumava escrever?
Devido ao meu trabalho, que é muito, muito absorvente, no jornalismo, escrevo sempre em folgas, portanto, o meu momento mais rico de escrita é a manhã. A escrita, em si, num primeiro momento foi relativamente rápida, estamos a falar de um fim de semana, ou de um momento em que parte para o papel, já depois de muitas semanas a amadurecer o texto dentro de mim. Depois, há uma segunda fase de deixar [o texto] repousar, voltar lá, reler, voltar a trabalhar algumas coisas, nomeadamente numa fase final, também em diálogo com a editora. Mas, no total, o processo demorou mais de dois anos, mas por opção minha.
Por um lado, há o tempo que eu deixo sempre o texto parado antes de voltar a ele, para o olhar já de uma forma mais distanciada, para ter tempo de perceber, quando volto ao texto, se realmente ele tem “pernas para andar” e se quero trabalhá-lo. Depois porque há todas as outras fases, desde o contacto com a editora, a escolha da ilustradora, o processo de ilustração.
Portanto, acabou por ser um trabalho prolongado, mas que precisou do tempo que foi necessário para atingir o ponto que tanto a editora, como nós, autora e ilustradora, achámos que era o tempo necessário para que ele estivesse num ponto que considerávamos da qualidade necessária para o livro.
Para quem vai abrir o livro pela primeira vez, o que vai ver?
Vai ver uma miúda que consegue encantar-se com a simplicidade das coisas. A infância é o tempo do encantamento em que facilmente conseguimos ver a beleza nas coisas mais simples e, no fundo, é isso que há n’“As Mãos da Avó”: a descoberta permanente de uma neta, numa aldeia, no contacto com a natureza, a aprendizagem com aquilo que são as mãos da avó e que lhe vão mostrando para descobrir as pequenas coisas, nomeadamente as mais simples, mas genuínas, como a primeira filhós da noite de Natal, que, por ser a primeira, tem um sabor especial. Portanto, tem a ver com essa capacidade de nos maravilharmos com as coisas que, no fundo, na infância conseguimos ter olhando para o mundo com muita limpidez.
Esta criança, a personagem principal, e a avó têm um nome?
Não, na verdade, neste livro, a criança não é nomeada, a avó também não, porque, de certa forma, elas traduzem muitas crianças, muitas avós, muitas experiências, e cada um, ao ler o livro, pode colocar-se nos papéis consoante quiser. Há a descrição, há momentos descritivos, há cenários, coloca-se as duas personagens deste livro em diferentes situações e momentos, mas, por opção minha, elas nunca têm esse nome referido, nunca têm um nome.
