Protesto inédito de artistas e promotores põe à venda bilhetes com IVA a 6% nos espetáculos. Álvaro Covões não poupa críticas à falta de política cultural do governo e dos partidos.
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Os bilhetes para vários espetáculos em Portugal, de música e teatro, estão a ser vendidos esta sexta-feira, e só esta sexta-feira, com o IVA a 6%. A iniciativa, um protesto inédito que conta com a participação de vários artistas e agentes culturais portugueses, pretende chamar a atenção e contestar o IVA de 13% que continua a ser cobrado na aquisição de bilhetes para espetáculos em Portugal
Ouvido na TSF, Álvaro Covões, vice-presidente da Associação de Promotores, Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE) que apoia o protesto, lembra que esta iniciativa não é suposto ser uma black friday mas sim um alerta para o facto de o IVA na Cultura, ao contrário do que aconteceu noutras áreas, ainda não ter sido reposto para valores anteriores à entrada da troika em Portugal.
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Nesta conversa, o promotor queixa-se da falta de sensibilidade e de resposta, não só do governo mas também dos deputados, para "discutir à séria" a criação de uma política cultural.
"Discutir a sério não é só discutir a criação, porque não faz sentido nenhum subsidiar a criação e depois penalizar a usufruição. Os portugueses financiam a criação artística e depois não conseguem comprar um bilhete porque depois ele é penalizado a 13 por cento. Isso não faz sentido nenhum (...) A não ser que tenhamos uma política só para ricos", adianta Álvaro Covões, lembrando que um IVA mais baixo iria baixar o preço dos bilhetes para o consumidor.
Álvaro Covões mostra-se muito crítico perante à falta de posição dos partidos em relação à Cultura, considerando mesmo que o "projeto para a Cultura é inexistente seja à esquerda ou direita".
"O que é assustador, como vi hoje no Diário de Notícias, é que a posição dos partidos é nenhuma. Eles ligam tanto para a cultura como um cidadão do Alasca que também está muito interessado na cultura portuguesa. O que eu esperava ver nos jornais é que os partidos tivessem uma posição sobre o IVA dos espetáculos ao vivo, dizem que não têm", adianta.
Álvaro Covões dá o exemplo de Espanha que, depois de um período de crise, está a repor o IVA de forma progressiva. "Foi uma decisão política, no parlamento espanhol ouve uma proposta e decidira repor o IVA".
"Esta é uma ação para demonstrar, para provar, que se o IVA baixar o preço dos bilhetes baixa. Muitos agentes culturais juntaram-se a esta iniciativa para comprovar que é possível, mas tem de ser com o apoio do Estado. O apoio à cultura tem de ser este. O apoio à Cultura tem de ser este, não é ppenalizar a Cultura", avançou.
Entre os espetáculos de música abrangidos estão festivais como Paredes de Coura (que se realiza em agosto em Paredes de Coura), Alive (em julho em Oeiras) e Primavera Sound (em junho no Porto), e concertos como os dos Dead Combo, na Casa da Música, no Porto, de Mallu Magalhães, nos Coliseus de Lisboa e do Porto, de Lenny Kravitz, na Altice Arena, em Lisboa, ou de Rui Veloso, no Multiusos de Guimarães.
Peças de teatro como "O Deus da Carnificina", em cena no Teatro da Trindade, e o bailado "Lago dos Cisnes", no Teatro Tivoli, ambos em Lisboa, estão também na extensa lista de espetáculos abrangidos.
Na segunda-feira, a APEFE lançou uma petição pública em defesa da descida do IVA sobre os espetáculos para 6%. Na petição, endereçada à Assembleia da República, a APEFE sustenta que "o IVA a 13% é inconstitucional", porque "fomenta o encarecimento do preço fiscal dos bilhetes, limitando a procura dos cidadãos e consequentemente o exercício fundamental de cada pessoa ao direito à cultura".