"Emblemática, um êxito enorme." Banda desenhada Calvin & Hobbes foi lançada há 40 anos

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Em declarações à TSF, o editor Guilherme Valente, que trouxe a banda desenhada para Portugal, conta as razões pelas quais considera esta obra tão intemporal. "Tem uma densidade e uma profundidade de pensamento que não se encontra em muitos outros cartoons"
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Esta terça-feira faz 40 anos que a banda desenhada Calvin & Hobbes foi lançada pela primeira vez. A obra conta as histórias e reflexões entre um menino, o Calvin, e um tigre, chamado Hobbes, que era um boneco, mas que ganhava vida e se transformava no amigo imaginário desta criança quando mais ninguém estava a ver.
O fundador da editora Gradiva foi quem trouxe a obra para Portugal, uns anos após a ter conhecido quando estava em Macau. "Eu estive um certo período em Macau e descobri o Calvin & Hobbes, num grande jornal que se publica em Hong Kong, o South China Morning Post, e vi que era uma coisa genial", confessa na TSF Guilherme Valente.
Uns anos mais tarde, o editor foi convidado a olhar para a edição número zero do Público, num encontro onde estiveram figuras que fundaram o jornal. "José Manuel Fernandes e outros amigos convidaram-me para eu ir ver esse número zero, e eu vi o jornal e lá conversei com eles, disse o que pensava, [e] disse-lhes que está tudo lindíssimo, mas [que] falta-lhes uma coisa: um cartoon. E eles disseram: 'Pois, pois falta, andamos à procura, mas não encontramos nada com qualidade suficiente, originalidade e isso.' Então, eu disse: 'Olha, eu tenho aqui o cartoon para vocês.'"
Foi aí que Guilherme Valente mostrou a tira de Calvin & Hobbes, num suplemento do South China Morning Post que tinha trazido. O editor revela que José Manuel Fernandes e Henrique Cayatte ficaram "imediatamente entusiasmadíssimos" e que disseram que era "mesmo isto" que queriam. "Foi assim que o Calvin entrou em Portugal", acrescenta.
A banda desenhada rapidamente conquistou o coração dos portugueses. "Foi um êxito enorme. Os meus amigos do Público diziam-me que muitos leitores a primeira coisa que viam no Público era sempre o Calvin. E foi emblemático para o Público."
A Gradiva é a editora que publicou todas as obras do menino e do seu amigo em livro. Guilherme Valente assinala que a decisão foi tomada uns meses depois da banda desenhada ter saído no Público. "Depois de uns meses em que o Calvin começou a ser conhecido pelo público leitor, então nós lançámos o primeiro álbum. Aliás, o primeiro foi lançado numa coedição com o Público também, e foi um êxito enorme", conta.
Qual é o legado de Calvin & Hobbes?
Quatro décadas depois, a tira de banda desenhada ganhou vários prémios e mantém-se conhecida até hoje. Guilherme Valente explica as razões que o levam a acreditar que esta obra é tão singular e especial.
"É que o Calvin, de facto, tem uma densidade e uma profundidade de pensamento que não se encontra em muitos outros cartoons. Há cartoons do Calvin que são perfeitamente inesquecíveis. Por exemplo, em que o tigre se porta mal e o Calvin diz: 'Bom, é possível tirar o tigre da selva, mas não é possível tirar a selva do tigre.' Isto é uma coisa absolutamente admirável. É um pensamento que podia ser posto ou ter saído da cabeça de grandes autores do pensamento. Portanto, tem uma dimensão que eu acho, pessoalmente, singular", destaca.
O autor Bill Watterson deixou de publicar as aventuras do menino e do tigre a 31 de dezembro de 1995. Apesar de nunca o ter conhecido pessoalmente, o editor ouviu falar muito dele durante a publicação da obra. Descreve-o como um "excêntrico", "assim como também foram excêntricos grandes pensadores e grandes autores".
"Ele alimentou essa excentricidade, porque sabe que ele nunca autorizou merchandising com as tiras. Ele podia ter ganhado uma fortuna colossal, se autorizasse, por exemplo, fazer camisolas com a figura do Calvin, [como] t-shirts ou lapiseiras, ou canecas. Ele ganharia uma fortuna e ele nunca autorizou. Portanto, isto mostra que de facto é um homem especial", conclui.
