Emigração clandestina em peça da Urze Teatro que estreia esta sexta-feira em Vila Real
A Urze Teatro estreia esta sexta-feira, em Vila Real, a peça “Ir a salto”. É um espetáculo sobre a emigração clandestina portuguesa em meados do século XX. A nova produção é também uma forma de assinalar os 50 anos do 25 de Abril de 1974.
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A história da Urze Teatro baseia-se em relatos verídicos de quem nos anos 60 do século passado, fugindo da ditadura em Portugal, cruzou a fronteira para Espanha de forma furtiva com destino a França.
Muitos deles foram ajudados por passadores, que cobravam somas avultadas para facilitar a fuga, mas nem sempre de forma honesta. Muitos emigrantes foram enganados e deixados no concelho de Bragança, onde há uma aldeia chamada França. É o que acontece a Francisco e a Aurora, na peça em que são protagonistas. Uma história dramática, mas pintada com algum humor.
O encenador, José Carretas, fala em “emigração frustrada”, para descrever o êxodo da altura e ainda reflete sobre “como foi possível enganar tão facilmente as pessoas”. O dramaturgo chegou a pensar que fosse “um mito”, mas, na verdade, tem uma explicação: “A taxa elevada de analfabetismo, trinta e tal por cento na altura, mais nas mulheres que nos homens”.
O diretor artístico da Urze, Fábio Timor, refere que para construir a narrativa da peça, a companhia contou com a colaboração de “uma série de pessoas [que emigraram] e, inclusivamente, de alguns passadores”. Estas entrevistas acabaram por ajudar a dar corpo ao que estava a ser sonhado na Urze para levar a palco o tema da emigração “a salto”.
O trabalho de investigação teve a colaboração de José Eduardo Reis, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, sediada em Vila Real.
Entre 1960 e 1969, cerca de 640 mil pessoas saíram de Portugal e foram à procura de melhor vida no estrangeiro. Entre 20 e 25% foram a salto, ou seja, de forma clandestina.
A aventura de muitos desse emigrantes não correu mal a todos e acabaram por fazer vida lá fora. Mas Fábio Timor, que também já teve de sair do país e tem outras histórias na família, afiança que a decisão “nunca é fácil”.
Fábio Timor explica que “os cheiros da infância, dos avós, dos primos, os locais de brincadeira... só existem naqueles sítios”. Por isso “é bom lembrar aos decisores, quando abordam a questão da emigração com uma certa ligeireza, que emigrar não é fácil, nunca é”.
Daí que esta seja também uma chamada de atenção para as dificuldades que atravessam todos os que vêm à procura de melhor vida em Portugal.
A estreia de “Ir a Salto” está agendada para a noite desta sexta-feira, no Teatro Municipal de Vila Real, coprodutor da peça. É um projeto apoiado em 50 mil euros pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de abril de 1974, da Direção-Geral das Artes e dos municípios de Vila Real e de Cinfães.
