Esta terça-feira, uma centena de caretos voltam às ruas de Podence, no concelho de Macedo de Cavaleiros, para chocalhar quem lá passe. Um ritual que se repete, desde sábado, numa aldeia com pouco mais de 200 habitantes, mas que por estes dias recebe mais de 50 mil visitantes
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Há quem lhe chame o Carnaval mais genuíno de Portugal e até já adquiriu o estatuto de Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, em dezembro de 2019.
De chocalhos à cintura e vara na mão, os caretos - personagens com fatos preenchidos com franjas de lã colorida, máscaras de lata ou couro - têm o diabo no corpo. Correm, saltam, dançam, perseguem as raparigas solteiras, intimidam visitantes.
É assim o Carnaval de Podence, também conhecido como Entrudo Chocalheiro. Quem veste o traje de careto é gente da terra que quer manter bem viva a tradição de chocalhar, mas “só as mulheres". "Continuamos a ser tradicionais, nós não queremos nada dessas modernices”, ironiza um dos caretos, aproveitando para chocalhar algumas mulheres. “Está a ver como elas gostam”, afirma.
A participação neste ritual inicia-se na infância, quando as crianças começam a vestir fatos semelhantes aos dos caretos e a imitar o seu comportamento. Já lhes chamam os facanitos. “Chocalhamos, andamos à volta do careto grande que vai ser queimado, damos com o carapuço aos homens. É a tradição”, diz a pequena Lara vestida a rigor.
E quem vai uma vez ao entrudo chocalheiro, fica com vontade de repetir. É o caso de Joana Silva, que vive em Fafe. “Isto está cada vez melhor”, diz. “A forma como o carnaval mais genuíno de Portugal sai às ruas de Podence é maravilhosa”, confessa Isabel Costa, que vai de Leiria a Podence, desde 2017.
Os dias do Entrudo, são aproveitados pelos habitantes de Podence para abrir as garagens e as adegas, transformando-os numa espécie de tabernas para que os milhares de visitantes possam degustar a gastronomia transmontana. Outros aproveitam para vender o artesanato
Ao longo dos quatro dias, são milhares de visitantes que enchem cada esquina da aldeia e que deixam o alojamento da região esgotado. “Pelo histórico dos anos anteriores, devem ultrapassar as 50 mil pessoas e as unidades hoteleiras em redor, em Macedo, Mirandela, Valpaços, Bragança e em todo o território, estão completamente lotadas”, assegura o presidente da Associação de Caretos de Podence.
Esta tarde, o carnaval termina com a queima do entrudo, na eira do Careto, e nova multidão deve rumar àquela aldeia transmontana. “Vamos queimar o símbolo do entrudo que é um boneco gigante que simboliza queimar aquilo que é de mau, de velho e partir para um novo ciclo da Primavera de uma nova energia positiva”, afirma António Carneiro.
Ainda está a tempo de visitar Podence e ser chocalhado pelos caretos.
