Filipe Carvalheiro defende que a música clássica pode ser "fresca e nova". O maestro faz parte da história da Temporada Música em São Roque, que está a celebrar 30 anos.
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Filipe Carvalheiro, maestro e compositor, é responsável pela programação da Temporada Música São Roque da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) há 30 anos. O percurso pela música começou muito antes. "Aos quatro anos, no dia de Natal, recebi um instrumento musical e comecei a tocar músicas e as pessoas acharam engraçado e que eu tinha jeito para a música".
Seguiu-se a formação musical no Conservatório Nacional e na Escola Superior de Música de Lisboa, mas também fora do país. "Queria estudar direção de orquestra e de coro e não havia grandes hipóteses aqui em Portugal. Fui para os Estados Unidos onde fiz o meu mestrado em direção e depois voltei para Portugal. Entretanto comecei a estudar particularmente com um maestro italiano Donato Renzetti. E depois fui para a Holanda estudar com um maestro finlandês chamado Jorma Panula", contou.
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Filipe Carvalheiro começou a colaborar com a SCML por acaso. "A minha mãe trabalhava aqui. O então secretário-geral da SCML conhecia-me e abordou-me pedindo-me para encontrar uma solução de um apontamento musical para a apresentação desse livro", explicou.
O que era para ser um espetáculo de música pontual, tornou-se num evento anual que surgiu como forma de atrair público para o Museu de São Roque. "Quando começou nem sequer foi pensado como uma temporada de música para durar 30 anos certamente. Foi pensado como um acontecimento para fazer naquele outono de 1988. E correu bem e no ano seguinte decidimos repetir, e no ano seguinte decidimos repetir e há 30 anos que decidimos repetir porque corre bem".
O programa da 30ª Temporada Música em São Roque
A programação deste ano já está fechada e inclui espetáculos do Coro Gulbenkian, Coro Casa da Música e Orquestra Geração. A 30ª Temporada Música em São Roque apresenta ainda concertos do Grupo Vocal Olisipo, do Trio Pangea e d'Os Músicos do Tejo. O programa fica completo com espetáculos de Sete Lágrimas, Voces Caelestes e Camerata Alma Mater, Capela Sanctae Crucis, Concerto Atlântico e António Rosado, Ana Madalena Ribeiro e Filipe Quaresma.
Filipe Carvalheiro conta que tenta fazer uma programação abrangente, que "cubra um período vasto da história da música" e inovadora, apesar de admitir que nem sempre é fácil.
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"A oferta musical muitas vezes não é tão inovadora como eu gostaria. Creio que os grupos apostam relativamente pouco em formas inovadoras de apresentar a música. E é algo que eu procuro sistematicamente porque a música dita clássica ou erudita tem sempre um peso agregado de antigo, velho, ultrapassado. E não é assim. E eu gostava de passar ao público esta ideia de que a musica clássica pode ser ouvida sempre de uma forma fresca e nova", conta.
O maestro garante que existem formas de inovar, como por exemplo usar obras "que nunca foram apresentadas de compositores vivos ou obras que estão esquecidas nas bibliotecas há centenas de anos e que nunca ninguém ouviu".
Entre Lisboa e Copenhaga
Filipe Carvalheiro trata da programação da Temporada de Música São Roque mas divide o seu tempo entre Lisboa e Copenhaga. É maestro titular do coro "Kammerkoret Musica" na Dinamarca mas a ida para Copenhaga foi uma decisão familiar. "A minha mulher e eu preferiamos que as nossas filhas crescessem na Escandinávia e optamos pela Dinamarca. Portanto, o trabalho veio depois", explica.
Vive na Dinamarca desde 2009 onde salienta vantagens a nível profissional mas sobretudo pessoal. "Aquilo que valorizamos sobretudo é a segurança. As minhas filhas podem andar na rua, onde quiserem, à hora que quiserem sem que tenhamos qualquer tipo de preocupação. Isto permite-lhes crescer com uma certa responsabilidade".
O maestro Filipe Carvalheiro ganhou três prémios no Festival Coral Internacional de Barcelona. Em 2011, venceu a categoria Coro de Câmara num festival austríaco e 2013 o prémio para melhor maestro no Polónia.