Foi em Londres, no telhado da Apple Records, uma editora que o quarteto estava a lançar. Acabou quando a paciência da polícia se esgotou. Com a ajuda da rádio norte-americana NPR, o jornalista Rui Tukayana recorda esse dia.
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Foram 42 minutos de música. Um concerto especial que aconteceu numa altura em que já havia forte tensão entre os Beatles. "Havia um sentimento de desunião entre eles" conta Ken Mansfield à rádio pública norte-americana. Para além da banda, no telhado do edifício estavam os técnicos de som, uma equipa de filmagens e quatro pessoas que não estavam a fazer nada. Só a assistir. Ken Mansfield era um deles. É ele que conta que os Beatles "só foram para o telhado poucos segundos antes de começarem a tocar e só nessa altura decidiram que iam mesmo avançar. O John é que disse: que lixe, vamos fazer isto!".
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Ken Mansfield era na altura o responsável pelo lançamento da Apple (a editora) em território norte-americano. Tinha conhecido os Beatles há alguns anos e a boa relação que estabeleceu, e a sua ligação à indústria discográfica, garantiram que ficasse com esse cargo. Sobre o concerto diz que apesar dos nervos no início, os Beatles "sentiram-se bem em palco".
Ken Mansfield estava lá, sentado ao lado de Yoko Ono, a mulher de John Lennon. Nos topos dos edifícios em volta havia mais gente a assistir. E nas ruas, sem conseguir ver seja o que for, acumulavam-se os fãs.
Entrevistado pela NPR, Ken Mansfield lembra que o concerto existiu para que as imagens das gravações pudessem passar no filme "Let It Be", lançado algum tempo depois. O espetáculo, se é que pode ser chamado assim, acabou por se realizar em Londres, mas antes de se chegar a essa localização, outras hipóteses estiveram em cima da mesa: "numa ilha ao largo da Tunísia, ou num moinho, ou no coliseu". A mais incrível seria mesmo o deserto. "Houve que ficasse de procurar um lugar no Saara. Que ideia louca!"
Naquela tarde fria de janeiro de 1969 tocaram cinco músicas para quatro pessoas. Depois, conta Ken Mansfield, apareceu a polícia. "Tínhamos fechado a porta lá em baixo, mas houve tanta pressão da rua que acabámos por deixar a polícia entrar. Eles subiram... e esperaram!"
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Nem a polícia tinha vontade de interromper aquele que acabou por ser o último concerto do quarteto de Liverpool. Ken Mansfield lembra que "há mesmo uma fotografia em que se vê um dos polícias lá no telhado". Na verdade, esses polícias aparecem no vídeo no final do primeiro minuto. E sim, estão à espera, a ouvir. O amigo da banda garante que os polícias esperaram até que as filmagens fossem dadas como terminadas e só no final é que desligaram os amplificadores. Ken Mansfield diz que as negociações com a polícia correram tão bem que "no fim quase dissemos: "ok! temos o que queríamos, agora já os podem prender".
"Foi um momento mágico que tocou todos", diz sobre o facto dos Beatles se terem juntado uma última vez para subir a um palco improvisado. A banda terminou um ano depois. Sobre esta derradeira apresentação o amigo considera que "era algo que eles precisavam e foi uma prenda para os fãs que puderam ver isto".