A cidade de Faro, berço da imprensa em Portugal, quer dar a conhecer ao público um pouco da sua história desde a invenção de Gutenberg. A antiga capela do Paço Episcopal, encerrada desde 1913, é agora local de divulgação.
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Quem visitar a antiga capela do Paço Episcopal poderá ver uma série de artefactos que contribuíram para a criação da imprensa, livros antigos que são únicos e uma edição Fac-simile do Pentateuco, o primeiro livro impresso em Portugal, escrito em hebraico.
Faro é o berço da imprensa no país e quer dar a conhecer essa história e o património que acumulou desde a invenção de Gutenberg. Por isso, três entidades uniram-se com essa missão: o Circulo Teixeira Gomes abraçou o projeto em conjunto com a editora Sul Sol e Sal e a Diocese do Algarve.
Primeiro, houve que recuperar a antiga capela do Paço Episcopal que se encontrava muito degradada, colocando chão novo e recuperando alguns azulejos.
O local já passou por uma série de vicissitudes. A começar pela sua destruição e saque por parte da armada inglesa, comandada pelo conde de Essex, quando Portugal estava sob o domínio espanhol. Foi nessa altura que o Pentateuco e muitas outras obras valiosas foram levadas para Inglaterra. Algumas encontram-se nesta altura na British Library, em Londres.
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O padre César Chantre, da Diocese do Algarve, lembra que a invenção da imprensa foi obra da civilização judaica, sendo que quem imprimiu o primeiro livro em Portugal, mais concretamente em Faro, foi também o judeu Samuel Gacon.
Quando lhe perguntamos se poderá haver atritos por numa capela da igreja católica estar patente uma exposição em que o judaísmo está tão presente, responde: "Só para os mentecaptos". Na sua opinião, "a igreja católica está a seguir o princípio do qual nunca se devia ter desviado, a inclusão."
No teto da capela podem ver-se uns ferros com uns ganchos onde se penduravam cordas. Isto porque, muitos séculos depois de ter sido saqueada, durante a Primeira República, o espaço serviu de ginásio para os militares da Marinha. "Não só profanaram como adulteraram todo o espírito da capela", lamenta o cónego.
Quem visitar a exposição poderá ver máquinas que, apesar de terem muitos séculos, ainda funcionam, como o prelo de Gutenberg, com os carateres e a prensa.
Ao longo das paredes veem-se painéis onde estão expostos excertos do livro "As Artes Gráficas e a Imprensa em Portugal," do autor José Pacheco, editado pela Sul Sol e Sal.
Uma das primeiras edições dos Lusíadas, de 1613, é um dos livros que se pode observar nas vitrinas, mas há também dois outros que nem sempre estão expostos ao olhar do público por razões de segurança. "São livros que têm partes em ouro e que o conde de Essex não encontrou. É um missal e um livro de horas, são livros únicos", frisa Paulo Neves, do Circulo Teixeira Gomes
No próximo fim de semana, a comunidade judaica de Lisboa desloca-se propositadamente a Faro para conhecer esta exposição singular sobre a criação da imprensa e a difusão do conhecimento através da palavra escrita.