
Lucienne Bloch / Throckmorton Fine Art / Art Gallery of New South Wales / DR
"Frida: as suas fotografias" é o nome da exposição que abre amanhã no CPF, no Porto. A diretora do Museu Frida Kahlo, no México, sublinha que está a trabalhar para trazer a Portugal quadros da icónica pintora.
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Esta sexta-feira abre no Porto a exposição "Frida Kahlo: as suas fotografias". Imagens selecionadas entre as mais de seis mil encontradas na casa da pintora. Algumas são tiradas pela artista, outras pelo marido, outras ainda por fotógrafos famosos e ainda outras saídas da lente do pai, que se tornou num dos mais conhecidos fotógrafos mexicanos. Nas imagens aparece Frida, mas também a família, as suas paixões amorosas, o México em convulsão, o mundo antes da guerra fria e também o tempo que ela passou no hospital e na cama, paralisada.
Algumas das fotos estão recortadas, umas estão anotadas, noutras vê-se o batom da mexicana.
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Sobre a vinda se quadros de Frida Kahlo a Portugal, Hilda Trujillo Soto, a directora do Museu dedicado à artista afirma que Marcelo Rebelo de Sousa "o vosso maravilhoso presidente" esteve há dois anos no México e "mostrou-se muito interessado em trazer obras de arte da Frida".
Agora, com a passagem de Hilda Trujillo Soto por Portugal é a hora certa para tratar disso. A diretora do museu diz que "tem de se falar com Carlos Phillips, que é o dono da maior coleção de obras da Frida", quadros que podem ser complementados com "os vestidos de Frida que neste momento estão em Londres".
"Espero que alguém aceite este meu apelo", diz Hilda Trujillo Soto.
Mas enquanto os quadros e os vestidos não chegam, veem-se as fotos
Hilda Trujillo Soto sublinha que esta é a segunda vez que estas imagens são expostas em Portugal. Aliás, foi para Lisboa que elas viajaram pela primeira vez em que saíram do México. Desta vez estarão no Porto, no Centro Português de Fotografia, na antiga Cadeia da Relação, até 4 de novembro.
Há fotografias onde Frida é a protagonista, mas também Diego Rivera, o marido, aparece em algumas ou é autor de outras. A diretora do museu Frida Kahlo gosta de desfazer mitos: "eles formaram um casal que se complementava e embora dissessem que Diego Rivera era machista, isso não é verdade. Ele respeitava-a muito em termos artísticos e intelectuais, não nos amorosos. Mas nesses ela também não". A infidelidade do casal é conhecida.
O pai de Frida, diz Hilda Trujillo Soto, é outra figura central na vida da artista.
"Ele chegou ao México sem ter nada. Nem um peso. Mas no México aprendeu a fotografar e fê-lo de tal forma que se tornou num dos melhores fotógrafos da história do país. Principalmente como fotógrafo de arquitetura", sublinha.
Da exposição fazem parte mais de uma dezena de autorretratos tirados pelo pai da artista. A diretora do Museu Frida Kahlo diz que neles pode estar a influência para muitas das pinturas da mexicana. Uma artista que, por causa das poses com que se apresentava nos quadros e nas fotografias, o jornal britânico The Guardian apelidou de primeira rainha das selfies.
E nesses retratos, o olhar de Frida. Sem medo. Sem vergonha de ser como era. "Tu dás-te conta como nas suas pinturas, Frida posa de frente e está a olhar-te nos olhos, e sem nenhum medo, sem pena das suas deformações física [...] pelo contrário, ela aparece orgulhosa, como as orgulhosas tijuanas, as indígenas".
E no meio de doenças graves, um pai com um sentido de humor especial: "não gostava de a fotografar. Dizia que não gostava de fotografar gente feia. Mas era uma brincadeira dele", explica a organizadora da exposição.
E quando não eram dores físicas, eram as amorosas que torturavam Frida. Mas a mexicana saia por cima: "Veja", diz Hilda Trujillo Soto "esta imagem é interessante porque ela está vestida de homem. Depois de a tirar ela cortou o cabelo. Foi quando descobriu que Diego a enganou com a irmã".
As imagens mostram um pouco da intimidade da pintora mexicana, mas também a forma como para ela as fotografias podiam ter outras funções. Hilda Trujillo Soto diz que nas mãos de Frida, as fotografias eram objetos vivos. Deitada na cama, a pintora escrevia notas, recortava a sua cara e colava-a noutros locais, punha batom e beijava o papel. "Para ela, a fotografia para além do valor artístico também era parte da sua vida. E então beijava-as, recortava-as, pintava, desenhava, ..."
Entre a coleção há fotografias trazidas por Diego Rivera de uma visita à União Soviética. Lá estão retratos de Estaline e Trotski, uma história que acabou mal. O casal de artistas dizia que era comunista, mas Hilda Trujillo Soto tem dúvidas. "Os dois eram comunistas, diziam eles, mas também eram amigos de magnatas como Rockefeller, Henry Ford ou de ricos mexicanos. É justo dizer que eram radicais-chiques, esquerda caviar". Para a curadora da exposição, Frida e Diego eram "mais bons vivants, artistas, do que políticos socialistas. Isso era mais para o estilo".
Na sala seguinte, estão as imagens mais duras de toda a exposição. Frida numa cama, após o acidente, envolta em ligaduras. A diretora do museu sublinha que atrás de toda aquela dor está outra coisa. "O interessante" diz "é como ela consegue transformar a dor em obra de arte [...] acho que é por isso que hoje em dia os jovens se identificam tanto com ela. Porque é uma mulher que conseguiu ultrapassar a doença, mas também nunca aceitou nenhum cânone social. Derrubou-os a todos.
"Ela era como ela queria ser"
No total são mais de duzentas imagens que pertenceram a uma pintora. Mas dos quadros de Frida Kahlo, nesta exposição, só há fotografias. Uma falha? "Não, não" responde Hilda Trujillo Soto. "Esta exposição tem outro objetivo. Serve para a entender, é uma investigação. Quando nós abrimos a Casa Azul, tínhamos poucos quadros [...] mas depois expusemos as cartas, as fotografias, etc. Nessa altura passamos de 120 mil pessoas por ano, para as 600 mil".
Não são as pinturas, mas é a pintora.
Para a diretora do museu dedicado à mexicana, "esta exposição não tem como finalidade mostrar obras de arte, mas o de mostrar quem era, as origens e a intimidade de Frida".