A história de Ali, um rapaz refugiado do Afeganistão, é contada no livro "100 milhões de nós", que é lançado esta sexta-feira, na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
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Cem milhões é o número estimado de refugiados em todo o mundo, um número que motivou o título do livro de Filipa Matos Baptista, "100 milhões de nós", inspirado na história de Ali Nazari.
Refugiado em Portugal desde 2014, Ali saiu do Afeganistão com 14 anos. Partiu sozinho, com o irmão de 12 anos, por decisão dos pais, para um "sítio com futuro". "Era complicado na altura e agora está mais complicado. Não temos segurança nenhuma."
Apenas com uma mochila, onde guardaram bolachas e alguma comida, Ali e o irmão atravessaram as montanhas a pé, durante 19 dias e 19 noites, até chegarem ao Irão. "Passámos fome", conta Ali à TSF.
O destino seguinte foi a Turquia. Seguiu-se a Grécia, onde o irmão de Ali decidiu voltar para trás. Sozinho, foi na Grécia que Ali conheceu uma professora portuguesa "muito simpática", o que o levou a pensar que os portugueses eram as "pessoas mais simpáticas do mundo". Inspirado também por Cristiano Ronaldo, Ali decidiu que queria vir para o nosso país.
Demorou dois anos a chegar a Portugal, com passagens por Itália, França e Espanha. Viajou a pé, de comboio, de barco, escondido debaixo de um camião. Dormiu e viveu na rua, foi assaltado, agredido e preso, mas no centro de apoio aos refugiados, na Bodadela, sentiu que estava a começar uma nova vida.
Filipa cruzou-se com Ali, quando trabalhava como voluntária. Percebeu que o rapaz era uma "pessoa especial", com uma "história que merecia ser contada". Daí, nasceu o livro "100 milhões de nós", uma "história ilustrada ou novela gráfica (...) dura, mas com razões de esperança", mostrando que é possível "reconstruir uma vida, uma história e uma família".
Ali tem medo que os taliban leiam o livro. Se isso acontecer, não tem dúvidas: "Vão matar-me." Ainda assim, garante que está feliz em Portugal. Hoje, com 25 anos, tem casa, emprego, treina e estuda. "Conheci uma rapariga (afegã) e vou casar", mas confessa que quando recorda o passado, "por dentro, está muito triste".
A história de Ali, o rapaz refugiado do Afeganistão, pode ser multiplicada por tantos refugiados que existem em todo o mundo. O livro "100 milhões de nós" quer servir de inspiração e ajudar a compreender as dificuldades de gente que abandona tudo apenas para ter uma vida melhor e mais segura.