Investigação sobre a policromia na Capela do Fundador abre um novo campo de estudos em Portugal.
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Centenas de anos depois da construção do Mosteiro da Batalha, há uma investigação pioneira em Portugal que revela as cores originais da Capela do Fundador, o túmulo do Mestre de Avis - símbolo da nacionalidade - tingido de azul, vermelho e dourado e uma nova leitura sobre a Idade Média, agora iluminada com tons vibrantes.
O projeto liderado pela Universidade Nova de Lisboa vem confirmar que as pedras do Mosteiro da Batalha abrigam mais histórias do que se imagina à primeira vista. Joaquim Ruivo, diretor do monumento classificado pela UNESCO como património mundial, aponta os traços e tonalidades que resistem, vestígios da Capela do Fundador, quando era muito diferente do que é hoje.
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Noutros tempos, o último repouso dos reis D. João I e Filipa de Lencastre (e de alguns dos seus descendentes, entre eles o infante D. Henrique) apresentava-se pintado e era destino memorial e de peregrinação, com três mil atos religiosos por ano.
Vermelho, azul, verde, preto e dourado, símbolos de estatuto social e poder, assinala Joana Ramôa Melo, investigadora da Universidade Nova de Lisboa e coordenadora do projeto Policromia Monumental: A Cor na Capela do Fundador. "A aplicação da cor num contexto como este, numa capela que é concebida como panteão régio, portanto um programa com uma carga política, social e religiosa fortíssimas, a cor não pode senão articular-se com essas dimensões e com esses propósitos", afirma.
"Ali, claramente, o que se faz é usar cores que estão, por um lado, associadas à representação da realeza e, por outro lado, cores que permitem exibir a capacidade financeira e o estatuto destacado de quem manda fazer a capela e de quem ali se manda sepultar. E por isso há uma larga utilização, por exemplo, do dourado, com uma forte concentração de ouro". A investigadora acredita mesmo que a policromia extravasa os limites da Capela do Fundador. Tudo indica que a fachada principal da igreja do Mosteiro da Batalha "era também pintada".
Uma investigação científica pioneira em Portugal, com especialistas em história da arte, heráldica e engenharia informática, da Universidade Nova, Universidade de Évora, Instituto Português de Heráldica e Instituto Politécnico de Leiria, com técnicas inovadoras, que abre um novo campo de estudos, considera Joana Ramôa Melo.
Os resultados já conhecidos obrigam a revisitar conceitos sobre a chamada Idade das Trevas, porque, na verdade, "a experiência dos espaços no período medieval é fortemente marcada pela presença de cores", salienta a coordenadora do projeto.
O Mosteiro da Batalha prepara-se para oferecer, já em 2018, uma nova experiência multimédia de visitação, inspirada pela policromia na Capela do Fundador. Joaquim Ruivo espera ainda, no futuro, conseguir reunir financiamento para a recriação da estética original em videomapping.
No ano passado, o Mosteiro da Batalha foi visitado por 500 mil pessoas. A investigação liderada pela Universidade Nova de Lisboa é um tubo de ensaio, que lança novas pistas sobre a policromia nos monumentos medievais em Portugal.