"Há falta de consciência do que é assédio no meio laboral." Inquérito sobre assédio nas artes está disponível
À TSF, Raquel André explica que o objetivo passa por "apresentar algumas propostas, seja de mudança de lei, seja a criação de um manual de boas práticas"
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Um inquérito sobre o assédio nas artes em Portugal está disponível a partir desta sexta-feira. A ideia surgiu após vários encontros entre artistas para discutir os abusos que ocorrem dentro da profissão.
Depois de ouvidos os relatos dos artistas, nasceu o projeto MUDA, que coordena a realização do inquérito.
"Há uma prática de assédio no meio artístico que durante muito tempo foi muito banalizada, ou seja, nem sequer era pensada, nem sequer havia quase consciência e ainda há essa falta de consciência do que é que é assédio no meio laboral, portanto, assédio laboral, que inclui o moral e o sexual no meio artístico. Percebemos que havia muita desinformação", explica Raquel André, uma das responsáveis do MUDA, à TSF.
A partir daí, o grupo procurou encontrar dados que o comprovasse: "Começámos a tentar captar financiamento para conseguirmos fazer um estudo e, de facto, perceber, a nível nacional, o que é que as pessoas consideram a sede laboral no meio artístico e podemos identificar que pessoas, quais, quantas vezes, que tipo de assédio é que existe no nosso meio, mas achámos que era importante haver um estudo que nos desse dados e, a partir desses dados, podermos apresentar algumas propostas, seja de mudança de lei, seja a criação de um manual de boas práticas."
Raquel André conta que os relatos mais comuns estão relacionadaos com a precariedade do setor e com o abuso sexual.
"Existe muito pouco trabalho para a quantidade de pessoas que estão disponíveis para trabalhar e isso faz com que exista muita manipulação. Ou seja, uma coisa muito: ‘Ah, se não fizeres isto, então não dês mais trabalho.’ E isso também começa nas escolas de ensino e depois na relação com o assédio sexual existe muito poucas práticas na relação com a ideia de consentimento. Ou seja, o facto de esta arte ter uma relação muito próxima com o nosso corpo, o nosso corpo é a nossa ferramenta de trabalho, mas existe muito pouco a ideia de consentimento. Práticas que propõem um cuidado no corpo com o outro e que não seja uma coisa de o corpo que tem de estar disponível para fazer tudo", revela.
O inquérito vai estar disponível até ao final de setembro e é dirigido a todos os profissionais das artes performativas, incluindo técnicos, produtores e equipas de manutenção. Os resultados serão conhecidos em março do próximo ano.