Mente fresca, coração disponível e uma sabedoria e um talento reconhecidos dentro do meio. Celeste Rodrigues era muito mais do que a irmã de Amália Rodrigues, garantem os amigos.
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Uma mulher carismática que não deixava que o peso da idade lhe vergasse os ombros. É assim que Celeste Rodrigues é recordada pelos que se despedem com tristeza da fadista. A irmã de Amália Rodrigues morreu, esta quarta-feira, aos 95 anos.
Com um "canto incontestavelmente único", Celeste Rodrigues apaixonou "grandes artistas de grande relevo", garante o músico Jorge Fernando, amigo próximo da fadista. O autor de canções como "Chuva" descreve celeste como "uma mulher inteligente, tolerante, lúcida e com um gosto enorme por viver".
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"A Celeste é aquele tipo de ser humano cuja qualidade nos leva a pensar que há pessoas que deviam ser eternas", sublinha Jorge Fernando num aforismo que não apaga a "perda muito grande, irreparável" que o desaparecimento da fadista provoca naqueles que com ela privaram. O músico assegura, contudo, que Celeste Rodrigues se mantém viva "dentro dos corações de quem a conheceu, de quem partilhou a sua sabedoria e os seus conselhos".
É o caso de Tim que sempre se confessou um fã da artista. O músico da banda Xutos e Pontapés lembra a fadista como "uma pessoa com uma grande personalidade, uma grande força de vontade, com grande saber, com um grande conhecimento", mas também com uma grande memória.
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"Era incrível como é que ela, já depois de tanta idade, ainda se conseguia lembrar de letras, de fados e de histórias. Trauteava à mesa coisas dos anos 40 que alguém tinha escrito. Lembrava-se das pessoas, lembrava-se de tudo", conta Tim.
A sabedoria de Celeste Rodrigues caminhava de mãos dadas com uma mente fresca e disponível que a aproximava de pessoas de todas as idades, nas palavras do músico Luís Varatojo: "A Celeste era uma pessoa extraordinária. Quando nós estávamos com ela não se notava a diferença de gerações e a diferença de idades. Sentíamos todo aquele peso de saber de tantos anos de vida, mas, ao mesmo tempo, estávamos completamente à vontade com ela. Era inexplicável."
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As comparações com a irmã Amália Rodrigues são inevitáveis, mas o guitarrista da banda Peste e Sida, garante que, dentro do meio do fado, "toda a gente a respeitava por aquilo que ela era, pela sua originalidade, pela sua forma própria de cantar o fado".
Apesar de Amália Rodrigues ter tido um sucesso mais mediático do que a irmã, a fadista Kátia Guerreiro, que privou com Celeste, garante que nunca houve ciúmes nem amarguras: "Eu nunca senti nenhum ressentimento em relação às comparações, nem ao sucesso grande que a irmã teve, porque ela gostava muito da irmã e isso era completamente secundário."
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A entrega à família era um dos pontos que distinguia as duas irmãs. Kátia Guerreiro lembra que Celeste Rodrigues optou por fazer da sua casa um lar cheio de afetos.
"A Celeste fez uma opção que foi ter uma família, ter filhos, ter netos e chegou aos bisnetos que já são crescidos - um deles já toca guitarra. Alimentou muito este espírito de família, sempre teve à volta dela a família que sempre a acarinhou muitíssimo, sempre a tratou muito bem", remata Kátia Guerreiro.
"Uma contadora de histórias, serena e discreta." É desta forma que a fadista Ana Moura recorda a irmã mais nova de Amália.
"Recordo-me de uma mulher com uma grande sabedoria, sempre com uma grande descrição. A imagem que eu tenho é da Celeste com um cigarrilha e uma boqueira, muito elegante", contou à TSF a fadista.
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A fadista Ana Moura considera que Celeste era tão única e diferente que sempre foi muito mais do que apenas a irmã de Amália Rodrigues.
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