"Homenagear a palavra" e Lídia Jorge: festival literário vai celebrar a autora de “O Dia dos Prodígios”
O Festival Literário Internacional de Querença é organizado pela Fundação Manuel Viegas Guerreiro, que este ano celebra 25 anos
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“Os grandes navios da Terra”, ideia retirada do livro de Lídia Jorge, “O Vale da Paixão”, dá o título à quinta edição do Festival Literário Internacional de Querença (FLIQ). É a primeira edição depois da pandemia e a organização, a cargo da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, quis homenagear este nome maior das letras em Portugal: a escritora algarvia Lídia Jorge.
”É uma autora que diz muito ao Algarve, aos leitores que muito apreciam a obra dela e a nós também, fundação, que quisemos homenageá-la e homenagear a palavra”, sublinha o presidente.
João Miguel refere que a palavra estará sempre presente neste festival literário, quer seja através da palavra falada, escrita ou musicada. Ao longo dos três dias de festival, que começa ao final da tarde desta sexta-feira com uma palestra do professor Viriato Soromenho-Marques, a obra de Lídia Jorge vai ser analisada por vários académicos, entre eles responsáveis pelas cátedras que estudam a obra da autora nas Universidades de Genéve (Suíça) e Goiás (Brasil), mas haverá também leituras, música, exposições documentais e artísticas, uma feira do livro, uma instalação sonora em vários locais, com uma entrevista da escritora e um passeio pedestre.
Na aldeia estarão também pendões com frases retiradas dos inúmeros livros de Lídia Jorge. Logo na primeira noite, sobe ao palco a Orquestra do Algarve, que irá interpretar uma obra inédita do compositor João Nascimento baseada no livro “O Vento Assobiando nas Gruas”. “Será tocada num palco ao ar livre, que é um espaço absolutamente fantástico à noite”, sublinha o presidente da Fundação Manuel Viegas Guerreiro.
No sábado à noite, o público pode assistir a um concerto de leituras musicadas por Amélia Muge e o pianista Filipe Raposo.
Lídia Jorge, que este ano foi convidada pelo Presidente da República para proferir o discurso do 10 de Junho, foi na altura muito criticada por setores à direita na sociedade portuguesa, ao ter referido o passado esclavagista português, dizendo que “em Portugal ninguém tem sangue puro”. O presidente da Fundação considera que a escritora e o valor da sua obra estão acima de qualquer crítica. ”A Lídia Jorge é muito superior a tudo isso e este é um tributo que achamos que lhe devemos e ela merece”, acentua João Miguel.
Pode parecer estranho tamanha homenagem levada a cabo numa pequena aldeia do interior algarvio, mas o presidente da Fundação considera que “levar a cultura ao interior é uma forma de respeito por todos aqueles que ali residem”. Antes de Lídia Jorge, o FLIQ já homenageou Gastão Cruz, Nuno Júdice, Casimiro de Brito e Teresa Rita Lopes.
O festival literário de Querença termina com uma palestra proferida pela presidente da Fundação Saramago, Pilar del Río.
Lídia Jorge começou a sua carreira com o livro “O Dia dos Prodígios”, lançado em 1980. Ao longo dos anos, as suas obras têm sido galardoadas com diversos prémios e os seus livros estão traduzidos em inúmeras línguas.