"Idosos fazem parte do futuro": "E Antes, Como Era?", um podcast com memórias de quem "moldou" o interior algarvio
A iniciativa da Associação Odiana insere-se no projeto Vilas em Movimento
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As memórias que Custódia, com 94 anos, guarda ainda lhe permitem reviver como era residir no interior algarvio sem água canalizada. "Íamos ao poço velho, um poço lá longe", conta. Lembra que se juntava com as outras raparigas ao fim da tarde e ia buscar a água em baldes de metal ou infusas de barro. Esta habitante no território do Baixo Guadiana contou várias histórias no primeiro podcast “E Antes, Como Era?”, criado pela Associação Odiana. A intenção deste organismo, que abarca os concelhos de Alcoutim, Castro Marim e Vila Real de Santo António, promete “resgatar histórias de vida, tradições e memórias de quem moldou o território ao longo das décadas”.
Custódia lembra que antes de existir águas nas torneiras, a que era retirada do poço tinha que ser utilizada com toda a parcimónia: os banhos eram tomados só uma vez por semana e a roupa lavava-se na ribeira.
Em declarações à TSF, a presidente da Odiana considera que “muitos idosos acham que já não faz sentido estarem cá, porque têm uma idade muito avançada e já não contribuem ativamente para a sociedade”.
Contudo, Catarina Cavaco sublinha que, quando a população mais idosa do concelho já lá não estiver, todo o conhecimento que possuem "vai perder-se", apontando que a maioria destas pessoas vive "isolada e passa dias inteiros sem falar com ninguém".
“Um dos nossos objetivos é reforçar a sua autoestima e, ao mesmo tempo, o sentimento de pertença a uma comunidade”, explica Catarina Cavaco.
A associação prevê, assim, criar 18 episódios do podcast, que ficarão disponíveis nas suas plataformas digitais. Um deles já está pensado e irá colocar em diálogo crianças e idosos.
“Como é que brincávamos antigamente? Antigamente era com o pião, e agora, as crianças brincam com o telemóvel e o tablet e vamos tentar ouvir duas versões diferentes”, adianta ainda Catarina Cavaco.
O podcast, que foi criado no âmbito do projeto Vilas em Movimento BG 2.0, vai sair de dois em dois meses. “Queremos mostrar que as histórias dos nossos idosos são parte do futuro do território. Escutá-las é também uma forma de cuidar do nosso património imaterial”, refere a equipa do projeto.
Talvez Custódia possa, então, participar em mais algum episódio, porque recordações não lhe faltam.
"Quem é que me dizia a mim que, com 94 anos, ainda estava a dar à língua?", remata a mesma no podcast.